Brasil

Mesmo com o derretimento de Bolsonaro, PL é a alternativa que resta para Mendanha

Prefeito atira para todo lado em busca de um partido para sustentar o seu projeto de se transformar em liderança estadual, mas a maioria das portas estão fechadas para ele

Da Redação

A revelação da pesquisa DataFolha publicada nesta semana sobre as eleições presidenciais de 2022, mostrando que Jair Bolsonaro é um candidato em que 60% dos eleitores brasileiros não admitem votar de jeito nenhum, é mais um complicador para o projeto eleitoral do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha.

Além dessa rejeição recorde na história das eleições no país, Bolsonaro, pelos números do DataFolha, o instituto de maior credibilidade nacional, perderia no 1º turno para Lula da Silva, se o pleito fosse hoje.

Esses índices têm reflexo em Goiás. Em 2018, as ligações com Bolsonaro elegeram deputados como Major Araújo, Delegado Humberto Teófilo e Paulo do Trabalho e ajudaram na recondução do Delegado Waldir e Magda Mofatto a mais um mandato na Câmara Federal.

Imaginou-se que o presidente seria um ativo eleitoral precioso, aposta que, agora, a pesquisa DataFolha mostrou estar fadada ao fracasso. E isso afeta, e muito, Gustavo Mendanha. Entenda os motivos lendo esse texto até o final, leitoras e leitores.

Mendanha está hoje acuado pela falta de apoio à sua pré-candidatura ao governo do Estado. Até o momento, ele só tem ao seu lado quatro ou cinco parlamentares, dentre os quais os bolsonaristas Magda Mofatto (PL) e Humberto Teófilo (PSL, mas de saída).

Em três meses de andanças e movimentação desde que se desfiliou-se do MDB, o prefeito aparecidense continua longe de definir um novo partido e só tem como abertas, sem problemas, as portas de dois legendas de aluguel, os nanicos PTC e DC, que não têm tempo no horário gratuito de propaganda eleitoral e nem acesso ao fundo partidário.

Ele se aproximou do PL, dirigido em Goiás por Magda Mofatto e pelo marido Flávio Canedo – que até defendem o seu nome, mas perderam o controle da sigla depois da filiação do presidente Jair Bolsonaro, propenso a apoiar em Goiás a eventual candidatura do deputado federal Major Vitor Hugo.

Vitor Hugo é bolsonarista radical e rejeita Mendanha por considerá-lo desideologizado e sem compromisso com as ideias do presidente. Ele está a um passo de se filiar ao PL, acompanhando o presidente. Corre a notícia de que Vitor Hugo e Mendanha, apesar da incompatibilidade política, teriam se acertado, em um acordo no qual o mais bem situado nas pesquisas, em março, teria o apoio do PL para disputar o Palácio das Esmeraldas.

Obviamente, na época, Mendanha estará melhor. Vitor Hugo não é conhecido em Goiás e seus índices nas pesquisas dificilmente passariam do mínimo, ainda mais com o colapso do seu principal cabo eleitoral, Bolsonaro. Filiar-se ao PL, portanto, seria a alternativa mais segura para Mendanha para sustentar a sua futura candidatura a governador, recuando da intenção de não se envolver com a campanha presidencial.

É aí que as coisas se complicam. O PL, de fato, é a saída que resta para o prefeito de Aparecida, depois de afastadas a hipótese do Podemos (que caminha para formar uma federação com o União Brasil do governador Ronaldo Caiado) e do PSDB, que Mendanha refuga para não se contaminar com os escândalos dos governos de Marconi Perillo e José Eliton, sobrando, ainda que sem muita consistência, também a possibilidade do Republicanos (cuja prioridade para 2024 é a reeleição de Rogério Cruz, em Goiânia, e portanto receoso de que Mendanha, perdendo para governador, o que é mais provável, venha ase candidatar à prefeitura da capital e se tornar adversário de Cruz).

Tanto que Mendanha foi escondido a São Paulo para conversar com Eduardo Bolsonaro, principal operador político do pai, em um sinal de que pode acabar parando no PL.

Com o PL e com Bolsonaro, portanto, Mendanha pode concluir que ganha alguma estrutura, ele que, no momento, não conta com nada a não ser a sua própria ambição. Alguns prefeitos, poucos é verdade, mas melhor do que nenhum. Alguns diretórios municipais. E a conexão com a campanha de Bolsonaro, destinada a uma derrota, talvez ainda capaz de mobilizar cerca de 20% do eleitorado (os fanáticos que engolem as contradições e as maluquices do presidente).

Mas é aí que as coisas se complicam para Mendanha. Bolsonaro derreteu. Não é mais ativo eleitoral, já que mal tem votos para si mesmo, quanto mais para transferir.

Bolsonaro perdeu a condição de ativo eleitoral valioso e não tem mais votos para transferir

60% dos brasileiros dizem não votar de jeito nenhum no atual presidente

A nove meses do primeiro turno das eleições de 2022, a rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL) chega a inacreditáveis 60%. O número é da mais recente pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, 16, na mesma linha dos levantamentos de outros institutos de credibilidade, como o Ipec (antigo Ibope).
No levantamento anterior, realizado em setembro, o índice já indicava um cenário negativo para o chefe do Executivo: ele apresentava 59% de rejeição, o que aponta, agora, uma oscilação de um ponto percentual dentro da margem de erro, que é de dois pontos. Líder na pesquisa de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou queda de quatro pontos entre os que o rejeitam.

A rejeição do petista, em setembro, era de 38%. Agora, caiu para 34%, número que identifica aqueles que disseram que não votariam em Lula de jeito nenhum.

Em meio a um cenário econômico de inflação alta e alta taxa de desemprego, com piora nos indicadores, o presidente da República crê no pagamento de um Auxílio Brasil turbinado, de no mínimo R$ 400, como a esperança de reverter sua rejeição. O programa é o substituto do Bolsa Família. Para destinar recursos ao programa, o governo apresentou ao Congresso a chamada PEC dos Precatórios, a proposta de emenda à Constituição que muda o pagamento de despesas federais decorrentes de sentenças judiciais e altera o cálculo do teto de gastos. O texto foi completamente aprovado pelos parlamentares.

Ainda assim, no entanto, a pesquisa realizada pelo Datafolha reforçou o tamanho do desafio de Bolsonaro para conquistar votos entre os eleitores com menor renda, de até dois salários-mínimos — grupo que equivale a 51% da amostra do instituto. Segundo o levantamento, a diferença entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula nesse segmento soma hoje 40 pontos percentuais. O petista tem 56% das intenções de voto, contra 16% do atual presidente. Em setembro, quando foi divulgada a pesquisa anterior, essa distância era menor, de 34 pontos.

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