Aparecida

Perfil de jornalista no Instagram incomoda Mendanha com denúncias documentadas

Jeverson de Souza mostra caso de superfaturamento: ele foi até a loja do fornecedor e constatou que os preços são muito inferiores aos pagos pela prefeitura

Da Redação

Um perfil independente de um jornalista no Instagram – aliás, replicado também no Facebook – está abalando a política de Aparecida e, em especial, o grupo do prefeito Gustavo Mendanha.

Trata-se da conta de Jeverson de Souza, que se apresenta como estudante de jornalismo e repórter esportivo. Ele mora em Aparecida e tem jeito de repórter investigativo: publica, com frequência, documentos e avaliações sobre contratos realizados pela gestão de Mendanha.

Foi Jeverson de Souza quem denunciou as licitações da Secretaria de Assistência Social para a aquisição de bolos, tortas, salgadinhos e refrigerantes, em valores superiores às compras de cestas básicas – isso em 2020, em plena pandemia.

Para corroborar o absurdo e talvez as irregularidades por trás dessa operação, Jeverson visitou as crianças em um local de acolhimento da prefeitura e constatou que, para o lanche, elas estavam recebendo pão com mortadela.

Ele também foi quem localizou contratos da prefeitura de Aparecida para doações milionárias a um time de futebol profissional, a Associação Atlética Aparecidense, que são vedadas pela Constituição Federal.

Jeverson de Souza apresentou os documentos: Mendanha repassou entre R$ 10 a 15 milhões à Aparecidense, desde o seu 1º mandato. O material comprobatório foi entregue ao Ministério Público Estadual, que não se manifestou.

O prefeito debochou da denúncia postando, nas suas redes sociais, fotos com o boné do time e uma risadinha irônica. Na mesma época, o MPE recomendou à prefeitura de Goiatuba que não fizesse uma doação semelhante a uma equipe profissional de futebol do município, orientação que foi cumprida.

Jeverson de Souza desistiu de levar cópias das suas denúncias aos promotores de Aparecida. Ele, quando o fez, nunca teve qualquer resposta. Um dos seus próximos passos será procurar a DECCOR – Delegacia de Combate à Corrupção da Polícia Civil, para encaminhar as suspeitas que levanta sobre os negócios da prefeitura aparecidense.

Agora, novas revelações divulgadas por Jeverson de Souza ganham repercussão em Aparecida. Dessa vez, quanto a compras superfaturadas. O que o jornalista fez? Simples: conferiu os preços no contrato publicado no Portal de Transparência da prefeitura e foi até a loja do fornecedor. Lá, encontrou as mesmas mercadorias por valores até cinco vezes menores.

Esse contrato é milionário, envolvendo mais de R$ 10 milhões. E tem mais uma característica suspeita: os preços dos itens são muito maiores que uma transação idêntica, com o mesmo fornecedor, realizada pela prefeitura há pouco mais de um ano.

O perfil de Jeverson de Souza no Instagram passou a ser visitado por vereadores, secretários e até pelos donos da Papelaria Tributária, empresa citada neste último caso de superfaturamento.

Além disso, a prefeitura de Aparecida reagiu. Geralmente, Mendanha e seus auxiliares fingem não saber de nada e não dão explicações para quaisquer denúncias. Mas dessa vez foi diferente.

O secretário de Administração Arthur Braga gravou um vídeo e a Secretaria Municipal de Educação emitiu uma nota. Em comum, ambas as manifestações mostraram o esforço para esconder os fatos, com explicações técnicas que passam longe do verdadeiro escopo da denúncia de Jeverson de Souza: os preços superfaturados. Sobre isso, nem Arthur Braga nem a Secom disseram um pio.

Prefeito está em campanha e isso não é barato: de onde está vindo o dinheiro?

Há poucos dias, o Diário de Aparecida publicou uma ampla reportagem do jornalista Nílson Gomes sobre as despesas do prefeito Gustavo Mendanha com as viagens que têm feito aos municípios para a sua pré-campanha a governador do Estado.

O próprio Mendanha, também em entrevista recente a O Popular, informou que em 2021 foi a mais de 100 cidades para se reunir com supostos apoiadores e receber homenagens arranjadas em Câmaras de Vereadores.

O prefeito costuma levar assessores para filmar e fotografar tudo o que faz, além de vereadores, às vezes o vice-prefeito Vilmar Mariano e secretários, com despesas elevadas de locomoção, hospedagem e alimentação, no mínimo.

Nílson Gomes, grande conhecedor de política e de campanhas eleitorais, estimou os gastos de Mendanha em pelo menos R$ 200 mil por mês. E fez a pergunta que tem perseguido o prefeito: quem está pagando por tudo isso, levando-se em conta que ele, Mendanha, recebe um salário de R$ 20 mil mensais?

“As mídias sociais de Mendanha e seus aliados mostram intenso trança-trança intermunicipal. Isso tem um custo. E não é pequeno, avaliou o jornalista, ao fazer novamente as contas: “Porém, por menor que seja a entourage do prefeito, uma microcomitiva de 12 pessoas rodando em quatro carros três dias por semana custaria em média R$ 200 mil por mês com salários, locações, alimentação, hospedagem, petróleo e diárias. Portanto, dez vezes mais que os rendimentos mensais líquidos do prefeito”, calculou Nílson Gomes.

Pelo sim, pelo não, Mendanha parece desconfiado de tem explicações a dar, mas não sem ter a menor noção do que dizer para justificar a sua pré-campanha. Neste início de ano, ele desacelerou os motores. Parou de viajar, ao mesmo tempo em que cresceram as especulações sobre a sua desistência, diante do visível “murchamento” da sua candidatura.

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