Saúde

Testes genômicos evitam quimioterapia em mulheres com câncer de mama

Ciência, tecnologia e medicina juntas permitem que pacientes com este tipo de câncer não sofram os efeitos colaterais ocasionados pelo temido tratamento

A quimioterapia, um dos tratamentos mais conhecidos, foi considerada durante décadas “a regra” para tratar o câncer de mama e outros cânceres.

Mas a terapia que pode curar, costuma ser acompanhada por perda de cabelo, náuseas, tonturas, vômitos, diarreia, fadiga e dores no corpo.

Também pode haver efeitos colaterais mais graves, como sangramento interno, cânceres secundários, potencial para causar danos permanentes ao coração e aos nervos das mãos e dos pés e expectativa de vida mais curta.

No entanto, todo esse sofrimento pode estar com os dias contados. “Testes genéticos agora podem revelar se a quimioterapia de fato seria benéfica ou não”, afirma o oncologista clínico Gabriel Felipe Santiago.

A chegada da tecnologia genômica permitiu o desenvolvimento de novos testes baseados na biologia.

Ao contrário dos fatores prognósticos anatômicos, os testes genômicos podem apresentar uma interação entre a natureza dos genes incluídos em um perfil específico e o benefício da terapia sistêmica.

Estes podem ser avaliados por plataformas avançadas como Oncotype, MammaPrint, Breast Cancer Index (BCI), entre outros, que tentam através do estudo genômico do tumor mostrar se o paciente teria benefício ou não com quimioterapia pós-operatória (adjuvante).

“A utilização das assinaturas genômicas auxilia de maneira substancial a decisão da terapia adjuvante, mas o custo destes testes ainda é elevado, o que dificulta o acesso e limita seu uso na prática diária”, explica.

O Dia Nacional de Combate ao Câncer, 4 de fevereiro, tem o objetivo de ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer, principalmente sobre a sua prevenção.

Está aí um motivo para divulgar a chegada da tecnologia. Segundo Santiago, estes estudos desenvolvidos na área da oncologia clínica estão apresentando inovações no tratamento de câncer de mama inicial.

“São novos testes baseados em biologia molecular e análise gênica. Por meio deles, podemos prever se um determinado tipo de câncer de mama em estágio inicial tem maior risco de recidiva após o tratamento inicial”, esclarece.

De acordo com ele, o teste pode ser feito na biópsia inicial ou na biópsia da cirurgia. Com essa informação os médicos podem saber quais mulheres que apresentam tumores mamários iniciais (com receptores hormonais positivos, HER 2 negativo e até 2 linfonodos positivos) podem se beneficiar da quimioterapia após a cirurgia.

“Os testes de assinaturas moleculares, chamados de Oncotype Dx, Mammaprint e Breast Cancer Index, são aplicados sobre o tecido tumoral retirado na cirurgia por meio de análise gênica. Desse modo, é feito o exame que permite que se saiba qual o risco de recidiva da doença e se a paciente vai se beneficiar de tratamento com quimioterapia pós-operatória”, avalia Gabriel.

O Oncotype Dx, por exemplo, é o mais utilizado no Brasil. Analisa a biologia do tumor através da atividade de 21 genes. A partir da análise, são gerados resultados na pontuação denominada Recurrence Score (RS), que varia de 0 até 100, fornecendo informações sobre a possibilidade de retorno da doença em um período de 10 anos

“Assim, pacientes que apresentam doença de alto risco pelo exame (RS acima de 25) têm indicação de quimioterapia adjuvante seguida de terapia hormonal (e supressão da atividade dos ovários na pré-menopausa). Já pacientes com doença de baixo risco (RS abaixo de 16) têm indicação apenas de terapia hormonal pós-operatória. Pacientes com doença de risco intermediário (RS de 16 a 25) têm indicação de terapia hormonal isolada se estiverem na menopausa e de supressão da atividade dos ovários associada à terapia hormonal na pré-menopausa, com o uso de quimioterapia em casos selecionados”, pontua.

Já o Mammaprint analisa 70 genes e o comportamento da doença, calculando o risco de recorrência como alto ou baixo. “Tem sua principal indicação em pacientes com alto risco clínico”, aponta. É usado para determinar qual a probabilidade dos cânceres de mama serem suscetíveis de metástases após o tratamento inicial. Pode ser usado para qualquer tipo de câncer de mama invasivo com até 5cm e que tenha se disseminado para não mais do que 3 linfonodos.

O Breast Cancer Index (BCI) determina o tempo de tratamento com a terapia hormonal adjuvante para pacientes com tumores luminais. Ele avalia a necessidade de se estender a terapia hormonal adjuvante por um período superior a cinco anos.

Em tempos de Covid-19, os testes de assinaturas moleculares apresentam mais uma vantagem para as pessoas em tratamento contra o câncer de mama, pois pode poupar a paciente de procedimentos desnecessários.

“Nesse período de pandemia, se a paciente está fazendo uma quimioterapia que é desnecessária do ponto de vista gênico, podemos estar expondo a paciente a um quadro de queda na imunidade. Se ela contrair coronavírus, as complicações serão muito piores”, explica Gabriel.

Dados

A pandemia foi um balde de água fria nos avanços em relação à conscientização da mulher, melhores práticas de atendimento, diagnóstico e terapias.

Um levantamento feito pelo time de Data Analytics da Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil, aponta que 2,8 milhões de mulheres com idade elegível e indicação clínica para a realização de mamografia deixaram de fazer exames de rastreio ou para o diagnóstico de câncer de mama, no último ano, nas unidades da rede.

A análise revela que 91,1% das brasileiras podem não estar com o acompanhamento em dia nesse período, e em algumas regiões do País, a lacuna de diagnóstico chega a 99,4%. Nesse contexto, a Dasa estima que mais de 49 mil casos suspeitos de câncer de mama deixaram de ser rastreados dentro da rede, o que representa 1,7% do universo de mulheres que não realizaram os exames entre agosto de 2020 e de 2021.

Responsável por 2,26 milhões de casos registrados em 2020, o câncer de mama se tornou o tipo de câncer mais diagnosticado no mundo. Este é o tipo de câncer que mais acomete mulheres, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), representando cerca de 15,5% dos óbitos. Para este ano, o Inca prevê 66 mil novos diagnósticos e mais de 18 mil mortes.

O câncer de mama é curável na maioria das vezes. “Quando detectado em estágios iniciais, as chances de cura são de 95%”, afirma o oncologista clínico Gabriel Felipe Santiago. Desse modo, é importante ficar atenta a sintomas como inchaço de toda ou parte de uma mama, nódulo único endurecido, irritação ou dor de uma parte da mama ou mamilo, vermelhidão na pele e secreção sanguinolenta ou serosa pelos mamilos. “Logo que notar esses sinais, é necessário procurar um profissional”, adverte.

Causas

As possíveis causas do aumento da incidência do câncer de mama podem estar relacionadas a fatores sociais, como o envelhecimento da população, a maternidade cada vez mais tardia, situações como a obesidade, o sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo e alimentação inadequada.

Entre as principais formas de prevenção estão a adoção de hábitos saudáveis, como dieta equilibrada, prática de exercícios, baixo consumo de bebidas alcoólicas e eliminar o cigarro da rotina.

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