Aparecida

Estudo da Fiocruz prevê aumento de mortes e internações por Covid-19 em Aparecida

Na medida em que a Prefeitura de Aparecida de Goiânia flexibiliza a reabertura de atividades econômicas não essenciais, mortes e casos de Covid-19, além da ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) voltados ao tratamento da doença, aumentam. Recente estudo do boletim epidemiológico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última sexta-feira, 21, aponta que o município tem alta tendência de aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) em curto ou longo prazo, ou seja, nas próximas três ou seis semanas. Atualmente, dos 65.379 casos confirmados, 1.251 vieram a óbito por Covid-19 na cidade.

Isso quer dizer que nos próximos dias poderá haver um aumento na quantidade de hospitalizações por coronavírus, seguido pelo crescimento no número de mortes ocasionadas pelo vírus. O levantamento da Fiocruz leva em conta que Goiás está entre as 17 unidades da Federação com pelo menos uma Macrorregião de Saúde que mais está em estado crítico no controle da pandemia. Segundo a pesquisa, a Macrorregião do Estado com alto aumento de tendência do Srag é a Centro-Sudoeste, que inclui as regiões da Estrada de Ferro, polo Catalão; Centro-Sul, polo Aparecida; e Sul, polo Itumbiara. As regiões estão em situação crítica no mapa de risco da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).

De acordo com o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, os casos de Srag pararam de cair na semana passada, enquanto a velocidade de transmissão da Covid-19, o chamado “Re”, tem subido. Além disso, a procura nas unidades de saúde de Aparecida de Goiânia tem aumentado. Na sexta-feira, 21, a ocupação de leitos de UTIs para o tratamento da Covid-19 na rede pública do município estava em 32% e ontem já havia saltado para 40%, com 170 notificações diárias do vírus. Dados da SES-GO apontam que, em relação ao índice geral, a ocupação de leitos de UTIs na cidade está em 49,71%.

 

Reversão
O cientista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, aponta para o que chama de reversão de tendência de queda em Goiás e no Brasil. “A gente teve esse pico forte ali atrás [março], a gente conseguiu reverter com as medidas de restrição de mobilidade. Começou a cair, só que essa velocidade de queda começou a desacelerar, começou a cair cada vez mais devagar, até que começou a desacelerar, começou a cair cada vez mais devagar, até que começou a estabilizar e agora já está revertendo. Ou seja, já está querendo virar aumento de novo”, explicou o pesquisador ao O Popular.

Outro fator que Schrastzhaupt atribui para o aumento de casos de Covid-19 é a baixa cobertura vacinal no País, o que inclui o Estado. Ele lembra que, para ser efetiva, a vacinação deve ser coletiva. Para ilustrar o caso, o pesquisador cita o processo de imunização como um jogo de futebol. A vacina seria um ótimo goleiro, que segura quase todas as bolas, as quais seriam a doença. Contudo, quando poucas pessoas são vacinadas, os que estão imunizados podem receber uma grande pressão, com mais ‘bolas’ tentando entrar e talvez com jogadores melhores, o que seriam as novas variantes agressivas. Em Aparecida, segundo município mais populoso do Estado, apenas 6,87% da população recebeu a segunda dose da vacina contra a Covid-19.

O cientista ressalta que, sem vacinação em massa, a solução para evitar mais mortes são medidas restritivas, evitando que as pessoas tenham contato umas com as outras. Ele defende que isso deve ser como prevenção, antes do aumento descontrolado de casos. Porém, de acordo com Issac Schrastzhaupt, as medidas restritivas no Brasil têm sido de forma reativa, após a doença ter se espalhado muito. “Quanto antes fizer isso, menos mortes você verá agora”, pontua.

Prefeito cria falsas expectativas na população ao publicar informações supostamente positivas

O prefeito Gustavo Mendanha (MDB) inventou o “marketing hospitalar” – que consiste em publicar em suas redes sociais situações em que apregoa de melhora da pandemia de Covid-19 no município, induzindo a sociedade a relaxar com as normas de prevenção e com os cuidados face ao elevado risco de contaminação que a nova doença oferece.

No mesmo dia em que pendurou no Instagram um gráfico mostrando que as internações no município haviam caído para 32% dos leitos disponíveis, a realidade mostrava um quadro dramático de alta de casos, sugerindo que a 3ª onda vem vindo a galope a ameaçar as aparecidenses e os aparecidenses. Na verdade, simultaneamente com a publicação de Mendanha, os dados incontestáveis da Secretaria Estadual de Saúde revelavam que quase 50% dos leitos para Covid-19 já estavam ocupados e seguiam subindo.

A divulgação feita pelo prefeito visou a patentear que o sistema de escalonamento intermitente por regiões adotado em Aparecida seria o melhor do mundo e estaria a garantir o controle da pandemia, porém os números mostram o contrário e que o vírus se espalha pela cidade com força.

Um dos fatos polêmicos em relação às falhas do isolamento social em Aparecida é que os motéis foram considerados atividades essenciais pela prefeitura e continuam funcionando normalmente. E ainda as feiras livres, como a do Setor Garavelo, também autorizadas pela prefeitura, acabaram virando cenário de aglomerações, uma situação de risco, já que o índice de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na cidade ainda é alto.

Além disso, recentemente, a prefeitura liberou o funcionamento de atividades de lazer e eventos sociais públicos, privados e corporativos. “A ideia de zoneamento é um pouco ingênua, mas atende aos comerciantes. Não leva em consideração que o vírus circula e as pessoas andam, pegam ônibus e visitam outros lugares”, disse em entrevista ao Diário da Manhã o biólogo Matheus Santos, especialista em Genética pela Universidade Federal de Goiás (UFG). (E.M.)

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