Aparecida

Imigrantes haitianos que moram em Aparecida preparam homenagem para presidente assassinado

O brutal assassinato do ex-presidente do Haiti, Jovenel Moïse, na madrugada do dia 7 de julho deste ano em sua residência nos arredores da capital Porto Príncipe, causou espanto e comoção em todo o território global. Entre os imigrantes que moram em Aparecida de Goiânia não foi diferente. Abalados com o episódio e com o rastro de violência que o assassinato trouxe, aumentando o clima histórico de instabilidade política e econômica no país da América Central, integrantes da comunidade haitiana vão realizar uma cerimônia na próxima sexta-feira, 30, no município para homenagear ao ex-mandatário. Aparecida tem, pelo menos, 500 imigrantes haitianos que vieram ao Brasil fugidos da miséria e falta de estrutura do país após o terremoto de 2010.

“Queremos justiça”. É assim que o pastor Dorval Nodie, liderança espiritual da maioria dos haitianos que vivem em Aparecida de Goiânia, explicou ao Diário de Aparecida os motivos da tristeza e revolta da comunidade diante do que ocorreu naquele país. À frente da Igreja Metodista, no Setor Expansul, ele está mobilizando os compatriotas para um ato em memória do ex-presidente Jovenal Moïse. Apesar da ação estar prevista para ocorrer hoje, 23, em todo o mundo, o pastor disse que excepcionalmente em Aparecida foi remarcada para a próxima sexta-feira, 30, para que haja maior participação dos imigrantes e da população em geral. “Queremos o apoio dos patrões dos haitianos que vivem aqui para que eles possam participar da mobilização”, defende.

A ideia é, a princípio, fazer uma caminhada do Setor Expansul, onde fica a Igreja Metodista na qual o pastor congrega, com levantamento de bandeiras do país e fotos do ex-presidente assassinado até a sede da prefeitura, seguindo os protocolos sanitários de combate à Covid-19. Ele conta que o ex-presidente era muito querido pelos haitianos e fazia avanços importantes para os país. “Queremos lamentar a morte dele e pedir justiça. Ele e a família foram mortos dentro de casa”, lamenta.

O pastor Dorval Nodie se movimenta para levar o maior número de compatriotas à cerimônia de homenagem ao ex-presidente Jovenel Moïse. “Queremos falar da importância dele para o Haiti”, salientou ele. De acordo com a liderança espiritual, o ex-presidente haitiano assassinado enfrentava de oligarquias do país e não teve tempo de melhorar a condição de vida do seu povo. No país da América Central haverá luto nacional de três dias, desde ontem, 22.

Ao O Popular, o pedreiro Mecene Amisial, de 51 anos, há seis anos no Brasil, relata que a morte do Moïse trouxe muita tristeza à população haitiana que foram obrigados a emigrar do país. “Todo mundo tem vontade de voltar. Lá é o nosso país, mas não tem como”, afirma. De acordo com ele, as incertezas sobre o que irá ocorrer no Haiti só crescem. Ex-professora em seu país, Lucia Donese, de 61 anos, acredita que Moïse não conseguiu apoio suficiente do parlamento para governar. “Não quiserem apoiar o projeto dele. O presidente Jovenel saiu do povo”.

 

5º presidente assassinado
Jovenel Moïse foi o quinto presidente do Haiti a ser assassinado desde o fim do julgo da França. Ele foi morto por um grupo fortemente armado que invadiu a sua residência, guardada por seguranças. A esposa, Martine, ficou ferida e foi conduzida a um hospital de Miami. No sábado, 7, ela retornou ao Haiti usando um colete balístico e deverá participar da cerimônia fúnebre hoje, 23. Os três filhos do casal foram levados para um local incerto.

A Polícia Nacional do Haiti prendeu 18 ex-militares colombianos acusados de participar do assassinato. Outros três foram mortos e cinco estão foragidos. Também estão detidos o médico haitiano radicado na Flórida (EUA) Christian Emmanuel Sanon, apontado como o mentor da conspiração; o chefe de segurança de Moïse, Dimitri Herard, outro haitiano-americano James Solages. Ainda foragido, o senador John Joel também estaria entre as pessoas que, em encontros na vizinha República Dominicana, teriam planejado o ataque.

Crise política
O Haiti vive uma grave crise política, econômica e social. Jovenel Moïse dissolveu o Parlamento e governava por decreto há mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.

A oposição o acusava de tentar aumentar seu poder, inclusive com um decreto que limitava os poderes de um tribunal que fiscaliza contratos governamentais e outro que criava uma agência de inteligência que respondia apenas ao presidente.

Ele dizia que ficaria no cargo até 7 de fevereiro de 2022, em uma interpretação da Constituição rejeitada pela oposição. Para eles, o mandato do presidente havia terminado em 7 de fevereiro deste ano.Em fevereiro, autoridades do país disseram ter frustrado uma “tentativa de golpe” de Estado contra o presidente, que também seria alvo de um atentado mal sucedido. Mais de 20 pessoas foram presas na ocasião, incluindo um juiz federal do Tribunal de Cassação e a inspetora-geral da Polícia Nacional.

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