Cidades

Em Aparecida, moradores do Vale do Sol fazem manifestação para cobrar escola e CMEI

Aproximadamente 1.000 crianças, com idades entre nove meses e treze anos, estão sem estudar

Homens, mulheres e crianças enfrentaram o calor, a poeira e a baixa umidade para cobrar as unidades escolares.
Fotos: Print das imagens de Wellington Santos

Por: Luciana Brites

Aproximadamente mil crianças, com idades entre 9 meses e treze anos, que moram no Setor Vale do Sol, em Aparecida de Goiânia, estão sem creche e sem escola. O bairro existe há quarenta anos, segundo os moradores mais antigos, e é carente de todo tipo de infraestrutura. A falta de acesso à educação, porém, é o que mais incomoda, tanto que no último sábado, 30 de julho, houve uma manifestação pelas ruas do bairro, protestando contra a falta de escolas.

Com faixas, cartazes e chapéus de formatura (capelos), homens, mulheres e crianças enfrentaram o calor, a poeira e a baixa umidade para cobrar o cumprimento das promessas feitas e renovadas, ano a ano, de Centros de Educação Infantil (CMEI) e escolas de ensino fundamental no bairro. A TV Serra Dourada, de Goiânia, cobriu a manifestação.

O pastor Roberto Antônio promove um momento de ensino religioso aos domingos e fica impressionado com a defasagem das crianças. “São crianças de nove, dez anos que não sabem ler nada. Não é dificuldade para ler ou entender um texto, é não saber ler uma palavra simples, isolada. Isso é muito triste”, conta.

Jaime Socorro conta que as escolas mais próximas exigem uma caminhada de uma hora e expõe as crianças a grandes perigos. “Tem que atravessar BR, passar por lote vago… é muito complicado”.

“O prefeito sabe da situação, o secretário de educação também, mas ninguém faz nada”, desabafa, Alessandro Luciano dos Santos.

 

“Prometeram que o bairro ganharia unidades de ensino no 1º  semestre de 2022”

 

Raimunda Silva gasta trinta minutos, de bicicleta, para levar a filha para a escola. “É sacrificado, mas eu não posso deixar ela sem estudar. Eu ainda dou meu jeito, mas nem todo mundo tem essa possibilidade. O certo seria ter escola e CMEI aqui, no Vale do Sol”, opina.

Alessandro Luciano dos Santos conta que no fim do ano passado houve a promessa de que no primeiro semestre de 2022 o bairro ganharia CMEI para as crianças menores e escola para os estudantes do 1º ao 9º ano. “Fizeram essa promessa e até agora nada. Estamos em agosto e continuamos sem as escolas. Isso é um absurdo, nós não podemos aceitar isso. O prefeito sabe da situação, o secretário de educação também, mas ninguém faz nada”, desabafa.

Leiliane Cristina, 9 anos, não sabe ler nem escrever. “Meu sonho é ir pra escola”, conta. Ela quer aprender e fazer amigos mas, por enquanto, fica em casa o dia inteiro. “A escola é muito longe, não tem ninguém pra levar a gente pro colégio, então não tem como ir”, resume.

A manifestação de sábado também foi a oportunidade de recolher mais assinaturas para um documento, que reivindica a instalação imediata das unidades de ensino no Vale do Sol. O abaixo-assinado tem mais de mil assinaturas e será encaminhado, segundo o pastor Roberto Antônio, para o secretário municipal de educação. “Vamos tentar marcar e entregar nas mãos dele”, avisa.

Futuro comprometido

O empresário Renato de Faria é um dos mais indignados com a situação. Ele costuma auxiliar as famílias mais carentes do Vale do Sol e confirma que o setor é totalmente carente. “Falta tudo: asfalto, água tratada, rede de esgoto, iluminação, ônibus… o descaso aqui é total. As autoridades têm conhecimento, sabem de tudo o que acontece aqui e não agem, fingem que não estão vendo”, declara.

Para ele, a falta de escolas e CMEIs compromete o futuro das crianças e diminui drasticamente as chances de conquistarem uma vida melhor. “Que oportunidades essas crianças vão ter ? Vão ficar adolescentes sem ler ? Como vão conseguir ter uma vida melhor ? A gente cansa de ouvir que a educação é uma porta de saída da pobreza extrema mas ainda se depara com uma realidade dessas”, se indigna.

Procurada, a prefeitura de Aparecida de Goiânia não se manifestou, até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para eventual posicionamento do órgão.

 Alfabetização tardia exige estratégia para que alunos sintam prazer em estudar

 

O ideal, segundo a legislação atual e os educadores, é que as crianças aprendam a ler e escrever até os seis, sete anos de idade, no máximo. A realidade, porém, nem sempre está de acordo com o ideal. Milhões de crianças, em todo o País, não aprendem a ler e escrever na idade certa e isso tem consequências.

A pedagoga aposentada e especialista em alfabetização, Vilani Alencar, explica que a alfabetização é um processo contínuo e, na idade certa, muito lúdico e agradável para a criança. “É a descoberta de um novo mundo, em que tudo passa a ter um sentido diferente e muito mais interessante. Requer atenção e consome muita energia da criança e do professor”, explica.

Uma das maiores dificuldades para alfabetizar crianças mais velhas é o fato de que os métodos são sempre pensados para os mais novos. Há muitos desenhos, atividades e propostas pensados para os pequenos que têm até sete anos. Então, quando uma criança de nove, dez ou onze anos se depara com esse material, imediatamente ocorre um problema de interesse e identificação.

“Crianças um pouco mais velhas não gostam e não se interessam pelas mesmas coisas que chamam a atenção das crianças mais novas. É preciso pensar uma solução especial para contornar esse problema, com uma proposta de ensino adequada a essa faixa etária que precisa se alfabetizar tardiamente”, destaca a supervisora de avaliações do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rita Schane.

A melhor alternativa para mitigar o problema é adotar ferramentas especificamente pensadas para a alfabetização tardia, com estímulos e atividades que despertem o interesse e capturem a atenção daquela faixa etária.

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