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Marconi Perillo é eleito o novo presidente nacional do PSDB

Ex-governador de Goiás substitui Eduardo Leite e tem o desafio de fazer o partido tucano voltar a crescer

O ex-governador de Goiás e ex-senador Marconi Perillo foi eleito, nesta quinta-feira (30), o novo presidente nacional do PSDB para um mandato de dois anos. Ele substituirá o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que decidiu não permanecer mais à frente do partido que decidiu não permanecer no cargo para se dedicar à gestão estadual e também para focar em tentar se viabilizar como alternativa nas eleições presidenciais de 2026.

Na mesma eleição, a prefeita de Palmas (TO), Cinthia Ribeiro, foi escolhida como presidente do PSDB Mulher.

O ex-governador de Goiás Marconi Perillo disse ao GLOBO que as prévias feitas pelo partido deixaram “sequelas” e que a legenda errou ao apoiar Simone Tebet (MDB) e abrir mão da candidatura própria ao Palácio do Planalto no ano passado. Aliado do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), Perillo também defendeu o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como candidato à Presidência em 2026, em movimento que deve gerar controvérsia junto a tucanos paulistas, com quem Leite já teve rusgas.

Perillo assume um partido em crise e reduzido. No Congresso, são 14 deputados federais e apenas dois senadores. O tamanho no Senado fez com que o partido fosse desalojado da sala que ocupava, já que perdeu o direito de ter uma estrutura de liderança partidária.

Em São Paulo, há uma debandada de prefeitos após os tucanos perderam o comando do estado para Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele avalia que, diante deste cenário, vai ter como principal tarefa trabalhar para que a sigla retome fôlego e, nas palavras dele, possa “agregar senadores e deputados no trabalho de reestruturação.

‘’Um dos fatores que nos levaram a esse problema todo foi a falta de candidato a presidente. Isso foi cruel para nós, terrível. Um erro gravíssimo’’, afirmou Perillo.

Depois de apresentar três possíveis candidatos ao Planalto para 2022, João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio, o PSDB acabou ficando sem nenhum. Doria venceu as prévias, mas não conseguiu unir o partido, e as fissuras internas tornaram inviável que o plano fosse adiante.

Para que não haja novas fraturas internas e sem repetir o “erro” de abrir mão de candidatura, Perillo acredita que a saída é apresentar desde agora o nome de Leite, que está deixando o posto de presidente do PSDB e não esconde o desejo de tentar uma candidatura ao Planalto.

‘’Defendo 100% que o partido tenha candidato. É uma tradição, salvo no ano passado, que foi um grande equívoco. O candidato natural, por todas as características e qualidades dele, é o Eduardo Leite’’, ressaltou.

Aécio retoma influência

Perillo foi governador de Goiás por quatro mandatos e é adversário do atual governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Ele tentou se eleger senador nas duas últimas eleições, mas sem sucesso. Ele também é aliado próximo do deputado federal Aécio Neves (MG), que foi presidente do partido e candidato ao Palácio do Planalto em 2014. O deputado foi um dos principais articuladores da chapa que saiu vitoriosa hoje na reunião do partido.

Além de eleger o aliado na presidência do partido, Aécio quer comandar o Instituto Teotônio Vilela, braço de formação ideológica e produção intelectual do PSDB.

Ele enfrenta, no entanto, a concorrência do ex-governador de São Paulo Rodrigo Garcia na disputa pelo cargo. Não houve entendimento hoje para definir a função e uma equipe de tucanos foi escolhida como parte de um conselho deliberativo para definir o cargo.

Em 2018 Perillo chegou a ficar preso por um dia por suspeita de receber propina da Odebrecht. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal anulou os efeitos da operação que resultou na prisão por considerar que o assunto era para ter sido julgado pela Justiça Eleitoral.

Próximo de Leite, o ex-senador José Aníbal, que já presidiu o partido de 2001 a 2003, tentou voltar ao cargo, mas não conseguiu apoio interno suficiente e retirou a candidatura.

Leite faz discurso em tom de campanha

De saída do comando da legenda, o governador do Rio Grande do Sul fez um discurso em tom de campanha presidencial.

‘’Não precisamos pensar todos a mesma coisa, nós precisamos pensar na mesma coisa e essa coisa não pode ser outra que não o Brasil. Precisamos pensar no Brasil acima de tudo, inclusive acima do nosso próprio partido político. Para sermos um só Brasil como desejamos temos que ter a capacidade de arbitrar as nossas diferenças internas, as nossas posições divergentes dentro do nosso partido e fazermos também só um PSDB.’’

Em seu discurso no evento, Aníbal disse que o partido não tem uma “unidade sólida”. ‘’O que não podemos é ficar fazendo de conta que a nossa unidade é sólida. Nós estamos unidos, mas é uma unidade que não tem uma âncora política sólida. O PSDB está um pouco perdido nesse panorama que estamos hoje na política brasileira. Isso vem se acumulando ao longo do tempo.’’

Eduardo Leite inicialmente desejava que o ex-senador Tasso Jereissati fosse escolhido para representar o PSDB, mas houve resistência e prevaleceu a vontade de Aécio pela escolha de Perillo. Leite participou da convenção, mas Tasso esteve ausente.

Tasso assumiu o comando interino do partido em maio de 2017, quando Aécio precisou se afastar após ser atingido no caso JBS. No comando da legenda, o ex-senador fazia diversas críticas a Aécio e chegou a falar na época que “tem diferenças muito profundas” com ele.

Relação com Lula

Há também reclamações de que, na presidência do partido, Eduardo Leite não fez uma oposição enfática ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Governador de um estado que lida com uma crise fiscal, o tucano não tem mostrado disposição para entrar em embates com o governo federal.

Em relação ao governo Lula, Perillo afirmou que a legenda é “oposição por convicção” e que vai “colocar o dedo na ferida quando necessário”. Ao mesmo tempo, disse que a legenda não critica de “forma destrutiva” nem faz “oposição por oposição”.

O tucano se classifica como adversário do presidente, com quem ressalta ter uma relação de “respeito mútuo”. Perguntado, não quis responder se votou em Lula ou em Jair Bolsonaro no ano passado.

Mesmo com as críticas, tanto Aécio, quanto Perillo defendem publicamente Leite como candidato do partido a presidente. Paralelamente, Aécio tem testado cenários para decidir se disputa o governo de Minas Gerais em 2026, cargo que já ocupou de 2003 a 2010.

A disputa no estado não é simples e deve envolver um candidato do grupo do atual governador Romeu Zema (Novo) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem buscado ao mesmo tempo apoio da direita e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Contestação judicial

Além de reduzir a bancada, o partido também perdeu nomes relevantes nacionalmente, como Geraldo Alckmin, que foi governador de São Paulo e candidato a presidente duas vezes pelo partido. Ele hoje está no PSB e decidiu ser vice-presidente de Lula, que era seu rival e de seu antigo partido.

A troca no comando do partido acontece em meio a uma contestação judicial do comando de Leite e também de uma queda de braço entre ele e uma ala do partido em São Paulo. Um dia antes de deixar o comando da sigla, o governador gaúcho nomeou o prefeito de Santo André, Paulo Serra, seu aliado, para presidir o PSDB paulista.

Leite foi adversário do ex-governador de São Paulo João Doria nas prévias presidenciais do PSDB. Doria se desfiliou do partido, mas nomes ligados a ele continuam na legenda e tem se mobilizado contra ações do governador.

Um dos pontos de divergência envolve a eleição para prefeito de São Paulo. Leite deseja que o PSDB tenha candidato próprio e integrantes da sigla na capital paulista querem apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Perillo evitar dar opinião sobre a disputa em São Paulo e diz que isso “é um assunto que tem que ser discutido em conjunto com o PSDB de São Paulo, que é muito forte”.

A Justiça do Distrito Federal decidiu, em outubro, dar um prazo de 30 dias para que o PSDB realizasse uma nova convenção para definir o comando do partido.

O entendimento é que a escolha de Leite para a presidência aconteceu de forma irregular. Ele assumiu no fim do ano passado com a renúncia do então presidente Bruno Araújo. Autor da ação contra o governador do Rio Grande do Sul, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), desejava que Leite fosse afastado imediatamente do cargo, mas o pedido não foi atendido.

Entre aliados do governador o entendimento foi que a decisão judicial foi inócua porque o partido já planejava fazer a convenção em novembro antes da Justiça impor o prazo.

Não é a primeira vez que o ex-governador de Goiás tenta presidir o PSDB. No final de 2017, após o fim do período de Tasso como interino, Perillo chegou a ensaiar uma candidatura para comandar a sigla, com o apoio de Aécio, mas retirou após Geraldo Alckmin viabilizar seu nome para o cargo.

Considerado inocente pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região da suspeita de receber propina da JBS, Aécio tem recuperado a influência no partido e dessa vez conseguiu emplacar o aliado no comando da legenda.

 

 

*Agência O Globo

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