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Carta de desfiliação revela pequenez de Mendanha, pela ausência de ideias

É nos momentos de crise pessoal que os grandes líderes fazem a diferença. O presidente Getúlio Vargas, por exemplo. Em meio a um tiroteio entre o seu governo e a oposição da época, ele se suicidou, deixando um documento que a história batizou de “carta-testamento” – no qual não fez referência aos políticos ou às situações miúdas daquele momento, mas formulou um conjunto de ideias para o futuro do Brasil.

O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, está longe, muito longe mesmo de estar à altura de um Getúlio Vargas, mas acaba de cometer o que muitos enxergam como um suicídio político, deixando o MDB em sinal de protesto contra a aliança do partido com o DEM do governador Ronaldo Caiado.

Mendanha também escreveu a sua “carta- testamento”. Ou escreveram para ele, já que, como se sabe, é intelectualmente de poucas luzes (seu curso superior é de Educação Física, que, obviamente, exige leituras basicamente técnicas). O seu texto não só é muito pobre, como também perdeu a oportunidade para construir um arcabouço de propostas para Goiás e apresentar uma visão de futuro para o Estado.

A carta de desfiliação preocupa-se em descrever picuinhas da política estadual, em meio a erros de português e de digitação (faltou, obviamente, uma boa revisão). O principal apelo é pela manutenção dos amigos pessoais que teria feito enquanto emedebista, não alguma bandeira ou qualquer preocupação com projetos e com a situação da população goiana.

O prefeito aparecidense apequenou-se. Em um momento em que toma uma decisão dramática, conforme ele mesmo alega, ao se declarar emedebista da vida inteira e reconhecer ter sido formado politicamente dentro do partido, ao qual deve a sua carreira, preferiu recorrer a emocionalismos, como, por exemplo, frases patéticas como “a chama desse glorioso partido vai continuar a arder no meu coração”, em vez de falar para as multidões e levantar os conceitos que deveriam nortear a sua trajetória além dos seus interesses individuais.

Que Mendanha é mal assessorado já se sabia. Mas a sua “carta- testamento” comprova que o seu aconselhamento é pior ainda. Ele não teve receio em assinar as 40 linhas de um documento que é pródigo em hipocrisias, como os elogios que faz a Iris Rezende, a Maguito Vilela e ao próprio pai, o ex-deputado Léo Mendanha. Sobre esses últimos, o que o prefeito escreve é de arrancar lágrimas… de tristeza, quando diz que “tudo o que sabe de política aprendeu com eles”.

Maguito e Léo Mendanha, que sempre foram fiéis ao MDB e a Iris, nunca ensinaram a trair e a descartar amizades, como Mendanha faz agora, em especial em relação a quem chamava de “irmão” e a quem declarava “fidelidade” e “lealdade”, caso de Daniel Vilela. O mesmo Daniel, aliás, que ele só cita uma vez, para tentar plantar uma intriga infantil, ao sugerir que ele pode ser descartado, mais adiante, para a vaga de vice do governador Ronaldo Caiado.

Mendanha mostra também que está aprendendo com seus novos aliados, em especial com o ex-governador Marconi Perillo – um político que só vive de lembrar o passado (como das suas quatro gestões). Na carta, ele tenta suprir a escassez de argumentos enfatizando os feitos do PMDB nos 16 anos em que governou Goiás, entre 1983 e 1998, um legado, se é que existe, de que ninguém se lembra mais. Uma verdadeira lástima.

 

 

Prefeito sonha em ser governador, mas não tem propostas para Goiás

O maior defeito – talvez de fabricação – da hipotética candidatura do prefeito Gustavo Mendanha ao governo de Goiás, se ele tiver coragem para renunciar ao seu mandato em Aparecida, é a falta de propostas para o futuro de Goiás.

Nesse quesito, aliás, Mendanha sempre foi fraco. Nas suas duas campanhas para a prefeitura aparecidense, ele registrou na Justiça Eleitoral, o que é obrigatório, planos de governo resumidos. Na última eleição, inclusive, o seu “planejamento” tinha apenas nove folhas, incluindo a capa, com frases curtas e brancos dobrados para ganhar espaço e aumentar o número de páginas.

O texto é de dar pena, com propostas genéricas, as quais, diga-se de passagem, ele não está cumprindo – como a promessa repetida de asfaltar todos os bairros, a da construção de um hospital do câncer e a da implantação de um Banco de Alimentos. Nenhuma está perto de sequer ter dado os passos iniciais.

Ao jornal O Popular, Mendanha deu dez entrevistas de página inteira nos últimos 60 dias. Mas só falou de política miúda. Nunca gastou uma dúzia de palavras para formular um conceito ou um projeto alternativo para o Estado que ele sonha em governar, segundo ele reproduzindo o que faz em Aparecida – o que, convenhamos, seria um verdadeiro desastre diante das precariedades e dos desafios que subsistem no segundo município mais populoso de Goiás. Os jornalistas de O Popular nada perguntaram sobre propostas, apesar de tratar Mendanha como pré-candidato ao governo.

Nenhum postulante jamais venceu a eleição para o Palácio das Esmeraldas sem se apoiar em um conjunto consistente de projetos e proposições para o Estado. Se imaginar que pode se lançar em uma campanha dessa importância sem essa sustentação, Mendanha estará simplesmente mergulhando em um abismo profundo. O problema é que, em toda a sua vida pública, ele nunca deu azo para o mundo das ideias, sempre se pautando pelo pragmatismo e pelo empirismo. Deu para chegar à Prefeitura de Aparecida, um município de grande tamanho, mas politicamente provinciano e paroquial. Mas daí em diante, nem um centímetro a mais.

 

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