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Com remuneração de R$ 44.870 mil, Major Araújo simboliza a “velha política”

Ao contrário do que aparenta, deputado estadual está longe da moralidade apregoada. Mandato parlamentar é um dos mais caros para a população

Da Redação

A pandemia do novo coronavírus vai deixar marcas na história. Só o tempo dirá com clareza o que ocorreu durante uma das mais devastadoras crises de saúde pública no país. Mas já é possível observar em diversos segmentos claramente quem combateu e quem tentou lucrar com medo e mortes que começam a lotar os cemitérios. Criticado nas redes sociais e imprensa, o deputado estadual bolsonarista Major Araújo (PSL) não teve pudores para tentar holofotes e repetir manjadas jogadas que faz em plenário.

Dono de um salário de fazer inveja até mesmo aos marajás (R$ 25.322 de remuneração como parlamentar e R$ 19.565 de aposentadoria), o major vive bem com R$ 44.870 retirados dos cofres públicos. Enquanto médicos e enfermeiros combatiam o vírus, um pequeno grupo político sobreviveu de fake news e denúncias falsas. Nacionalmente, bolsonaristas propagaram fake news sobre hidroxicloroquina, inflamaram o presidente e levantaram a bandeira de que ocorre corrupção no combate ao coronavírus.

No mesmo nível de sensacionalismo, Araújo tentou mais conturbar do que informar os goianos. Desconhecido para a maioria dos agentes de saúde e educadores até entrar em atrito com o segmento, ele gritou nas redes um valor irreal de máscaras. Em uma das publicações, Major Araújo acusou a área de educação do governo de Goiás comprar máscaras de proteção por R$ 16 quando ele conseguiria o mesmo produto por R$ 3. A Secretaria de Saúde deu ao político então a oportunidade de apresentar onde compraria o produto por tal valor. O prazo se esgotou e Major Araújo não conseguiu “entregar” o produto.

O jornal “O Popular” então procurou a empresa citada pelo político, que negou a existência do produto. Tempo perdido para a imprensa, para o Estado e para os profissionais que ficaram desprotegidos enquanto o major se esbaldava na confusão que criou. Neste valor anunciado, apenas os gastos do major com verba indenizatória chegariam a mais de 100 mil máscaras, mais do que suficiente para cobrir metade dos servidores da saúde na luta contra a pandemia.

Mas essa conta o major não faz. Ele vai para as redes em busca de fake news, como a de que a Companhia de Desenvolvimento Econômico (Codego) comprará um “veículo de luxo”. A denúncia foi classificada pelos jornais “Opção” e “Diário da Manhã”, como fake news. Na verdade, o “veículo de luxo de Caiado” é um veículo com escada e equipamentos para atender os distritos industriais de Goiás em ações técnicas como instalação de iluminação.

Velha jogada

Conhecido pelo tom oposicionista, Major Araújo sabe ganhar eleições como os velhos políticos. Nas campanhas se agrupa para mostrar forças, faz a foto com grandes lideranças e ganha o voto. Politicamente já esteve do lado de Marconi Perillo (PSDB), Iris Rezende (MDB) e Ronaldo Caiado (DEM). Assim atrai o voto dos que seguem os grandes players eleitorais do Estado. Mas tempos depois de eleito, Major Araújo rompe e começa o velho processo de sempre: atacar quem o apoiou. Até que o círculo finaliza e ele começa de novo. Quer um exemplo? Era inimigo n.1 do Delegado Waldir em 2016, a quem atribuía a pior reputação durante os embates eleitorais. Adversários nas urnas antes, agora ele pode ser o candidato de Delegado Waldir em Goiânia pelo PSL.

“A estratégia mais esperta dele ocorreu em 2016, quando foi eleito vice-prefeito. Fez isso pois sabia que as chances dele ser reeleito como deputado estadual eram mínimas. E deu certo”, disse um deputado que teme revelar o nome, devido a fama ‘nervosa’ do major. Araújo passou o canto da sereia nos emedebistas. Foi eleito e abandonou Iris Rezende, líder agora que ele deseja “substituir” com sua candidatura a prefeito. O medo contra o deputado é real. Seu perfil já ofereceu momentos deploráveis da política, como quando, em 2015, jogou um tablet em um colega de Assembleia. “Major Araújo faz da Alego um circo de horrores”, escreveu o portal nacional www.brasil247.com.

Acostumado a baixarias, Araújo faz uso das mesmas manhas dos políticos que conseguem fugir de esquemas como mensalão e lava jato para também buscar a impunidade. Após agredir um colega com palavrões, e perguntado se arrependia da covardia, teria dito em outras palavras que nada pode acontecer com ele: “Não volto atrás em nada, estou coberto pela imunidade parlamentar”. No caso da violência física, ele foi punido pelo Conselho de Ética.

Improbidade

Arauto do combate da corrupção, o parlamentar é figura conhecida no Poder Judiciário. Há três anos, foi denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa. O Tribunal de Justiça, antes, recebeu denúncia contra o major por suposta injúria a um delegado. “Com certeza, santo santo ele não é”, disse uma das vítimas atacadas pelo major dentro da Alego.

 

 

Deputado estadual sai caro para os goianos

O deputado Major Araújo não sai barato para o goiano. Seu custo é considerado um dos mais altos no parlamento estadual. Na Alego, geralmente, o major gasta o limite ou bem próximo do que é permitido com a verba indenizatória. Em 2019, por exemplo, Araújo teve acesso a R$ 311.765 de recursos públicos para gastos com apoio técnico, veículos, alimentação, etc. Apenas em um restaurante, uma nota do deputado chega a R$ 942, 27.

Para efeito de comparação, o deputado estadual Bruno Peixoto gastou R$ 173.323 no mesmo período, com atuação idêntica na prestação de serviços para a população. Ou seja, o que gasta o major dá para pagar quase dois deputados. A distância dele é grande em relação a muitos: a também oposicionista Lêda Borges (PSDB), por exemplo, no mesmo período, gastou R$ 212.964, em um custo público infinitamente menor.

Em 2016, o jornal “O Popular” tentou investigar o motivo do deputado abandonar o cargo de vice-prefeito. E uma das hipóteses seria o apego à verba indenizatória que não deve ser usada em benefício próprio do deputado, mas do exercício do mandato. Na reportagem “No que mira Major Araújo”, o jornal mostra que o deputado faz política de olho no quanto ganha: “Enquanto o vice ganha cerca de R$ 12 mil, só a verba indenizatória do Major Araújo em setembro deste ano foi de R$ 25.487, 43, fora o salário de R$ 25, 3 mil e a aposentadoria dele.”

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