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Editorial do Diário de Aparecida: A apuração das responsabilidades

O plano de trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado prevê chamar ao menos seis ministros ou ex-ministros do Governo Jair Bolsonaro para dar explicações sobre o enfrentamento da pandemia no País. Uma versão preliminar do roteiro, elaborado por integrantes do colegiado, também cita a necessidade de ouvir secretários do Ministério da Saúde, autoridades responsáveis pela área de comunicação e governadores. O único prefeito citado no documento é David Almeida (Avante), de Manaus, cidade em que a rede de saúde entrou em colapso no início do ano, com pacientes morrendo asfixiados após o fim do estoque de oxigênio em hospitais.
A CPI deve colocar em foco a gestão dos militares na Saúde. Além do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, a lista das autoridades que devem ser ouvidas inclui o ex-número 2 da pasta, coronel Élcio Franco, além do ex-comandante do Exército Edson Pujol, que será chamado para explicar a produção de cloroquina pelo laboratório ligado às Forças Armadas. O medicamento, sem eficácia comprovada contra a Covid-19, passou a ser produzido em maior escala.
Sabe-se que medidas de isolamento social foram sugeridas por todos os que comandaram o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Pazuello e o atual ministro, Marcelo Queiroga. O ministro da Economia, Paulo Guedes; o secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal; e o deputado Daniel Freitas (PSL-SC), relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permitiu a volta do auxílio emergencial em 2021, também estão entre aqueles que os senadores querem ouvir. Eles foram mencionados no tópico que pretende apurar o funcionamento do auxílio e outras medidas de socorro financeiro durante a pandemia.
Em princípio, apurar responsabilidades de autoridades federais, estaduais e até municipais no combate à pandemia não é algo condenável. O grande erro do presidente foi desdenhar, pela mídia, dos protocolos, como uso de máscara, não ajuntamento, lavagem das mãos e, finalmente, da vacinação, deixando em aberto ações para governadores e prefeitos, as quais, da mesma forma, às vezes condenou. Tivesse se resguardado em declarações contrárias ao que pregava a ciência, com certeza hoje não estaria vendo uma CPI apurar o que o seu governo fez ou, mais ainda, o que não realizou para combater a Covid-19.

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