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Empresários querem fim de Fieg politizada

Postura política de Sandro Mabel estaria prejudicando instituição, avaliam filiados que começam a pensar na saída do ex-deputado da federação ou na migração deles para outra entidade. Mabel é citado nos dois maiores escândalos da República – Mensalão e Lava jato

Da Redação

A Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) pode ter uma guinada em breve: um grupo de empresários tem a intenção de retomar a instituição para lideranças moderadas a políticas ou até mesmo criar outro segmento representativo.  O motivo seria a excessiva exposição negativa do atual presidente, ex-deputado federal Sandro Mabel, que tenta politizar a instituição e não tem calculado corretamente o chamado “risco político”.  O estrago já é considerado grande.

O grupo disse para a reportagem que a crise econômica passa, como todas passaram ao longo do tempo. O que não se sustenta é radicalismo que pode “manchar a imagem da instituição” e ir parar “nos livros de história”.  Mabel é hoje visto nas redes sociais como “mensageiro da morte”, por conta da postura em defesa do fim da quarentena.

“A Fieg tem uma tradição que está sendo quebrada. Veja que em nossa história tivemos pouquíssimos presidentes. Eles jamais politizaram tanto a Fieg e em curto espaço de tempo. Tanto não. Não politizaram. E mais: colocando em risco, já que é preciso dialogar e não enfrentar a sociedade, a UFG, os cientistas. Não é o que ele fala. É como fala. Muito desastrado. Não me representa”, diz um empresário que hoje está no corpo dirigente da federação e não assina em baixo das declarações de Sandro Mabel. O grupo alerta que o primeiro presidente, Antônio Ferreira Pacheco, ficaria “horrorizado com os entreveros que Mabel patrocina”.

Empresário de São Paulo, que fundou em Goiás a Mabel e depois a vendeu, o ex-deputado é mais conhecido hoje como político do que como empresário.  Seu nome é citado nos dois maiores escândalos da história da República.

No passado, durante a primeira crise do governo Lula, em 2005, foi acusado pela então deputada Raquel Teixeira (PSDB) de ser o mensageiro do esquema em Goiás. De acordo com registros da Câmara dos Deputados, ela explicou o que presenciou: “Em depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, a deputada licenciada Raquel Teixeira explicou por que não quis denunciar ao conselho ou à Corregedoria da Câmara a proposta de recebimento de mesada feita pelo deputado Sandro Mabel (PL). “Não tinha prova da proposta. Seria a minha palavra contra a dele”, observou”.

Na época, o conselho absolveu Mabel por falta de provas, como o judiciário absolveu Lula.  Há três anos, a Lava Jato também chegou em Mabel. Os ex-executivos João Antônio Pacífico Ferreira João Antônio Pacífico e Ricardo Roth Ferraz de Oliveira relataram pagamentos feitos ao presidente da Fieg pagos por meio de recursos não contabilizados e registrados no sistema “Drousys” (sistema informatizado da construtora que registrava os pagamentos ilegais). Uma reportagem da “Veja” relembra as últimas cenas de Mabel na política: “Ex-assessor de Temer, Mabel pediu propina para aprovar emenda”.

No suposto esquema, segundo a “Veja”, o então deputado conseguiria aprovar uma emenda à Medida Provisória 183/04, que tratava da redução de alíquotas do PIS/PASEP e da Cofins em diversos setores. Para os empresários que pretendem resgatar a “Fieg de Aquino Porto” das mãos de “um aventureiro”, as histórias de Mabel – ainda que sem condenação – não justificam sua presença à frente do grupo. “Já manchou, né. Foi um erro”.

“Ele errou desde o começo na questão da pandemia. A Fieg vai ficando para trás e o que é pior: perde força com a sociedade civil, com o povo, consumidores, já que abusa de uma retórica que não é verdadeira. Acredito que se tivesse dialogado desde o início, o governador Ronaldo Caiado teria entendido nosso lado. Mas não, foi para cima como se estivesse num plenário”, afirma outro empresário, de um segmento pouco valorizado pela Fieg e que deseja ter mais “voz” para modernizar Goiás.

Grupo quer resgatar a “Fieg honrada” de Ferreira Pacheco

O grupo de empresários descontentes pretende se reunir nesta semana para tratar dos rumos da Fieg. O grupo entende que pode de imediato se posicionar publicamente contra as intervenções de Mabel, não esperando que cheguem as eleições em 2022.

Antes, os envolvidos na mudança de tom pretende realizar uma consulta jurídica, já que ao se “exporem” teme represálias.  O grupo acredita que chegou a hora de resgatar a “moral perdida”.  Eles lembram que os dois presidentes tinham grande relacionamento com a política, não “contra” políticos. Lembram que Antônio Ferreira Pacheco, nascido em Catalão, cumpriu sua meta de entregar uma Fieg ética e inserida na sociedade goiana.  Ferreira Pacheco era realmente um industrial nato. Costureiro, ajudou a disseminar a ideia de produção em escala. Fundou vários sindicatos, tornou-se um defensor de uma classe (dos alfaiates) e acabou amigo do governador Pedro Ludovico.

A federação surgiu em 1952, tendo Pacheco como vice o advogado José Aquino Porto.  Depois, a Fieg foi comandada por um homem conciliador. Durante 33 anos, Porto comandou a instituição em tom moderado. A diferença do perfil é marcante: formado em Direito, Porto foi convidado para ser um ministro técnico no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Era culto, educado, lia autores franceses.  Antes de Mabel, a instituição teve ainda dois outros presidentes, considerados verdadeiros “diplomatas” – Paulo Afonso e Pedro Alves de Oliveira.

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