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Falta de medicamentos para intubação preocupa autoridades goianas

Eduardo Marques

A falta de medicamentos para manter pacientes com coronavírus entubados já é uma realidade em unidades de saúde de Goiás, na rede pública e privada. Autoridades de saúde ouvidas pelo Diário de Aparecida relatam dificuldades na aquisição de medicamentos e insumos, além dos altos preços deles às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Hospitais privados goianos pedem medicamentos emprestados um ao outro. 

Goiás vive o pior momento da pandemia da Covid-19, com recorde de óbitos e internações. Segundo o boletim da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, ontem, 24, chegou a ter 1.215 pacientes hospitalizados em UTIs nas redes pública e privada. O máximo na primeira onda foram 786. Esse aumento da demanda multiplicou o uso de medicamentos para intubação. Além disso, a indústria desse tipo de substância está saturada, não atendendo encomendas com a quantidade prevista e na data agendada. 

O chamado “kit entubação” são os analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares necessários para fazer a ventilação invasiva, que é quando uma espécie de “tubo” é inserida na traqueia do paciente. O procedimento é realizado em pacientes graves com a Covid-19 que estão com baixa oxigenação e não melhoram com métodos menos invasivos. A escassez desses medicamentos para manter os pacientes inconscientes pode levar a sequelas, agravamento e até a morte. 

Durante coletiva de imprensa na manhã de terça-feira, 23, o secretário estadual de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, afirmou que nos hospitais estaduais não há nenhuma falta, mas já sente a dificuldade de aquisição de medicamentos e insumos hospitalares.

“Nos hospitais estaduais até este momento nós não temos nenhuma falta, mas já sentimos a dificuldade de aquisição. Pedimos um determinado quantitativo, às vezes vem mais da metade, se promete para entregar no dia seguinte e entrega dois dias depois, já sentimos essa dificuldade”, afirma.

O titular da pasta destaca que os hospitais particulares realizaram um pedido para que seja feito um empréstimo de insumos à rede privada. “No interior do estado alguns municípios também estão com dificuldade de aquisição propriamente dita e ontem recebemos um pedido oficial de parte dos hospitais particulares no sentido de emprestar alguns medicamentos”, disse Ismael Alexandrino.

A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) alerta à população que há algumas semanas, os hospitais já convivem com a escassez de produtos, como anestésicos, relaxantes musculares e anticoagulantes, mas vinham conseguindo suprir a falta em algumas unidades por meio do empréstimo de doses entre elas ou a substituição dos medicamentos. “Na última semana, a situação agravou-se e o cenário tende a piorar diante da impossibilidade das indústrias farmacêuticas de atenderem os novos pedidos de compras dos hospitais”, informa a nota.

Alta de preços

Com demanda crescente e cada vez mais elevada, em decorrência do avanço da pandemia da Covid-19 no Brasil, insumos hospitalares, como medicamentos e itens básicos de proteção (luvas e máscaras), tiveram altas de preços no mercado farmacêutico que ultrapassam 1.000% em alguns casos.

O reajuste atinge, principalmente, anestésicos e relaxantes musculares que são utilizados para sedar e intubar pacientes nas UTIs – essenciais nos protocolos e planos de contingência do tratamento de casos graves da Covid-19.

Em um ano de pandemia, com a grande quantidade de pacientes e necessidade cada vez maior de UTIs, indústrias e laboratórios viram a procura por esses insumos crescer exponencialmente, numa escala acima do que era comumente ofertado no mercado brasileiro.

O Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), desenvolvido mensalmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com a plataforma Bionexo, atesta aumento médio dos grupos de relaxantes e anestésicos, durante 2020, de 38,36% e 48,88%, respectivamente.

Numa análise mais específica, surgem exemplos com reajustes mais acentuados. O rocurônio, que é usado para facilitar a intubação, custava em torno de R$ 16 antes da pandemia, de acordo com o setor de compras da Ahpaceg. Hoje, o preço gira em torno de R$ 160. Ou seja, 900% a mais.

Esse valor de R$ 160, no entanto, só é praticado em relações comerciais já estabelecidas e com contratos antigos, explica Ana Valéria Miranda, farmacêutica da Ahpaceg. Se quiser adquirir hoje o rocurônio, iniciando do zero uma relação comercial, o preço, segundo ela, chega a ser até 3.000% além do que era cobrado um ano atrás.

Aparecida sofre com o mesmo problema

O empresário Heribaldo Egídio, presidente da indústria farmacêutica em Aparecida de Goiânia, reforçou que o problema é geral. “Não é só em Aparecida de Goiânia. Na realidade é o Brasil todo. Está faltando insumos para matéria prima. Encareceu muito, principalmente embalagens. Está faltando também analgésicos, antitérmicos, enfim, está faltando uma série de medicamentos prontos”. 

Surpreso, Heribaldo pontuou que não esperava que a pandemia tomasse tamanha proporção. “Ninguém esperava que viemos a ter uma pandemia na evolução que ela cresceu no Brasil”. Ele, que atendeu o DA durante uma viagem aos EUA, afirmou que por lá o problema está controlado. “Para quem já sabia que a situação poderia piorar, aqui nos EUA eles programaram”. 

A reportagem entrou em contato com o Laboratório Teuto o qual informou que não comenta sobre especulações de mercado. Ele pontuou que atualmente produz medicamentos de referência, genéricos, genéricos de marca (similares equivalentes – EQ’s), MIP’s (medicamentos isentos de prescrição), linha hospitalar, suplementos alimentares, cosméticos e produtos para a saúde. Para os próximos anos, está programado o lançamento de mais de 180 novas apresentações.(EM)

Foto: Sérgio Lima

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