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Editorial do Diário de Aparecida: Boiada presa no mata-burro

A operação da Polícia Federal (PF) que apura supostos crimes cometidos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e outros servidores que ocupam cargos de confiança na estrutura da pasta pegou muitos de surpresa na última quarta-feira, 19, mas as investigações não são recentes. Elas começaram em janeiro e tomaram corpo nos últimos quatro meses, mas sua origem teve início em 2020. A suspeita é de um esquema criminoso de facilitação ao contrabando de madeira, especialmente da Amazônia.

A Operação Akuanduba, deflagrada pela PF esta semana, deve ratificar fatos já conhecidos dos brasileiros que fazem do ministro uma ameaça ao meio ambiente do planeta e, principalmente, do Brasil, já que as ações de Salles no comando da pasta trazem recordes de desmatamento e queimadas, grilagem, garimpo e invasão de terras indígenas. Sua má reputação não tem nada de exagero. Seguidor fiel da cartilha do presidente Jair Bolsonaro para o setor, Salles defende a exploração “capitalista” da Amazônia.

Ideias essas que em pouco mais de dois anos de governo estão sendo concretizadas por ações de desmonte do Estado e dos órgãos de defesa do meio ambiente. Outras enfrentam resistência. O impacto de suas políticas têm escala global, como não poderia deixar de ser quando se trata do meio ambiente e suas interações. E a pressão é crescente em todo o mundo. No âmbito interno, o ministro a serviço da devastação ambiental é acusado de dificultar investigações de uma operação da Polícia Federal na Amazônia envolvendo extração recorde de madeira ilegal para proteger os criminosos.

Quem não se lembra da fala de Salles em uma reunião com Bolsonaro em que o ministro do Meio Ambiente diz ao presidente que o governo deveria aproveitar que o foco da mídia estava voltado todo à cobertura da Covid-19 para “passar a boiada” nas questões de afrouxamento das leis ambientais brasileiras? Pois é, a investigação da PF concluiu que, na verdade, Salles já estava cometendo essa prática.

A ação deflagrada traz à sociedade uma esperança: a de que a “boiada”do chefe da pasta “caiu no mata-burro” e, muito provavelmente, ele também deve desembarcar do governo com a pressão judicial que sofrerá. Não é possível se pensar na possibilidade de um futuro sustentável, limpo e financeiramente viável negligenciando as questões ambientais. Que todos os fatos possam ser elucidados e colocados às vistas da sociedade e os culpados, punidos.

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