Aparecida

Mendanha procura saídas para viabilizar sua gestão e fugir da sombra de Daniel

Gestão morna, falta de dinheiro na prefeitura, problemas pessoais, pressão para encontrar um lugar na política estadual e, principalmente, a ausência completa de uma marca para caracterizar os seus mais de 4 anos e 4 meses no comando administrativo de Aparecida colocaram Gustavo Mendanha em uma espécie de inferno astral.
Ele governa a segunda cidade mais populosa do Estado. E também a única de importância geopolítica controlada pelo MDB, seu partido. Mesmo assim, não tem voz ativa dentro da legenda, dirigida com mão de ferro por Daniel Vilela – o filho e herdeiro de Maguito Vilela é também o senhor absoluto dos projetos emedebistas de futuro, que passam, em primeiríssimo lugar, pelos seus interesses pessoais: ou novamente se lançar candidato a governador ou compor com o governador Ronaldo Caiado para figurar como vice na chapa da reeleição ou ainda deixar tudo isso de lado e disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, já que está perdendo a visibilidade exatamente por não dispor de um mandato.
Tudo quer dizer que Daniel Vilela faz uma sombra enorme sobre o MDB e, consequentemente, sobre Gustavo Mendanha. Reservadamente, o prefeito aparecidense se diz injustiçado, não por Daniel Vilela, mas pelo momento histórico em que começou a sua carreira, que não abriu para ele o espaço necessário para crescer.
Mas essa moeda tem outro lado: Mendanha também cometeu o erro de mergulhar na pequeneza da política de Aparecida, uma das mais atrasadas do Estado, apesar da grandeza do seu colégio eleitoral, com 310 mil inscritos para votar. As lideranças locais só pensam em cargos e benesses pessoais, que o prefeito distribui à vontade para garantir o apoio de 21 partidos e dos 35 vereadores. Não existe oposição, mas, ao contrário do que se poderia esperar, esse fenômeno não se reverte a favor, porém contribui para desgastar a imagem do chefe do Executivo como alguém que “comprou” uma falsa unanimidade.
Sempre que pode, Mendanha reafirma sua fidelidade a Daniel Vilela, de quem se declara “irmão”. Mas o seu grupo de apoiadores mais próximos não se coloca na mesma condição. Eles se ressentem dos limites que o prefeito é obrigado a aceitar, reduzindo-se ao município, praticamente “proibido” de circular e manter contatos fora da cidade para não melindrar o presidente do MDB. Dois episódios, na semana passada, ilustram bem essa situação.
Um foi a indicação da vereadora do MDB de Aparecida Valéria Pettersen para o secretariado do prefeito Rogério Cruz, com o qual Daniel Vilela está rompido. Valéria obteve de Gustavo Mendanha o sinal verde para aceitar o convite para a Secretaria de Articulação Institucional da Prefeitura de Goiânia e declarou eufórica que estava se transferindo para a Capital para trabalhar na ampliação do futuro político de Mendanha e na sua aproximação com o governador Ronaldo Caiado. Daniel Vilela, é claro, chiou e exigiu do prefeito de Aparecida um reposicionamento.
A vereadora, entusiasmada com o novo cargo, anunciou que assumiria de qualquer maneira. Mendanha foi obrigado a ir para os jornais para dizer que não recomendava a transferência da sua vereadora para a Capital, ainda mais em um contexto em que, emedebista, ela estaria quebrando uma orientação geral do partido para o afastamento de Rogério Cruz. Ela não se incomodou e, na última sexta-feira, 30 de abril, tomou posse alegre e feliz, deixando no ar a suspeita de que Mendanha foi ambíguo, interessado em ter uma aliada dentro do Paço Municipal goianiense – onde manda o Republicanos, partido que tem como meta aumentar o seu espaço em Goiás e não esconde que quer o prefeito aparecidense nos seus quadros.
O outro acontecimento foi uma visita que Mendanha fez a Luziânia, para um encontro com o prefeito local, Diego Sorgatto, com o deputado federal Célio Silveira (PSDB, mas de saída), o prefeito de Valparaíso de Goiás, Pábio Mossoró (MDB), e o presidente do MDB de Anápolis, Márcio Corrêa. O que ele foi fazer tão distante de Aparecida? Conversar o quê? Buscar apoio, às escondidas de Daniel Vilela, para voos mais altos? Conhecer obras da prefeitura local para copiar em Aparecida, como, por exemplo, na área de parques ecológicos, que a sua gestão está na estaca zero, depois de prometer construir 17, mas não tocar para a frente nenhum deles?
Não se sabe. O fato é que o prefeito de Aparecida está perdido, à procura de um caminho para si mesmo e para a sua gestão, hoje vivendo um início de 2º mandato mergulhado na letargia.

Desafios se acumulam, sem nenhuma resposta

A Prefeitura de Aparecida está acumulando um passivo crescente de desafios não resolvidos que começam a desgastar Gustavo Mendanha – até hoje, já vencido o 4º mês do seu 2º mandato, ele não tem uma marca ou uma obra de repercussão para caracterizar a sua gestão.
O que complica a vida de Mendanha é que ele sucedeu a Maguito Vilela, um prefeito que revolucionou Aparecida e espalhou obras cruciais para o desenvolvimento da infraestrutura da cidade e para o atendimento da sua população.
Maguito criou milhares de empregos com as mais de 200 empresas que atraiu para Aparecida, movimento hoje totalmente paralisado, inclusive com o cancelamento de investimentos antes anunciados. Implantou os eixos viários Norte-Sul, deixando para Mendanha os da região Leste-Oeste – que estão na estaca zero. Construiu o hospital municipal, que, hoje, vive em permanente crise. Seus médicos, por exemplo, estão sem receber desde fevereiro.
Em resumo, tendo Maguito como parâmetro de comparação, Mendanha está em uma situação difícil. Indo mais longe, há quem considere que ele também perde feio no estabelecimento de paralelos com as gestões mais antigas de Norberto Teixeira e de Ademir Menezes, proporcionalmente à realidade de cada um em sua respectiva época.

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