Aparecida

Para a prefeitura, cenário é laranja, mas Estado diz que é vermelho e de calamidade

Da Redação

Além de não ser atualizado diariamente, indo frontalmente contra a informação anexada aos seus gráficos, o Painel da Covid-19 em Aparecida, mantido pela prefeitura, não confere com os dados do Painel da Covid-19 em Goiás, coordenado pela Secretaria estadual de Saúde. 

Pelos dados da SES-GO, Aparecida está no cenário vermelho, em situação de calamidade. Já o Painel da prefeitura garante que o cenário é laranja, que indicaria condições críticas, mas não de calamidade, contradição que alimenta as suspeições sobre a ocorrência de manipulação de informações.

O Painel da Covid-19 de Aparecida pode ser acessado através do site oficial do município, um dos piores dentre as prefeituras goianas, com interface pouco amigável, superada e dotado de poucos recursos, além de péssima aparência, apelando para cores esmaecidas e sem presença. Muitos links aparecem amontoados. O site, em resumo, pode ser definido como amadorístico.

O problema número um é que o Painel não é atualizado diariamente, como é a regra para esse tipo de transparência obrigatória. A tela informa que os dados são fechados às 17 horas, diariamente, o que não é verdade. O Diário de Aparecida monitorou o Painel durante toda a semana passada e constatou que as estatísticas são corrigidas, muitas vezes, somente no dia seguinte, embora constando o aviso de que o foram às 17 horas do dia anterior.

Na sexta, 26, por exemplo, não houve nenhuma atualização, persistindo as informações de quinta, 25. O Painel seguiu com essas informações defasadas até a manhã de sábado, 27. Esse atraso é a causa principal das suspeitas sobre a fidelidade e a honestidade dos números ali expostos sobre a evolução da Covid-19 em Aparecida. Ou então não ocorreu nenhum novo caso ou óbito na cidade, o que seria quase impossível.

Uma das desconfianças mais sérias que recai sobre o Painel é quanto ao número de mortes no município. Aparecida recusou-se a obedecer ao decreto do governador Ronaldo Caiado que estabeleceu para Goiás o sistema 14×14, ou seja, 14 dias de portas abertas para o comércio, indústria e serviços; em seguida, 14 dias de reabertura e assim sucessivamente, até o arrefecimento da 2ª onda da pandemia. Há um esforço, portanto, para mostrar que o modelo de isolamento intermitente por regiões, adotado pelo prefeito Gustavo Mendanha, é funcional, embora todas as grandes cidades do Estado, inclusive a vizinha Goiânia, tenham optado pelo decreto estadual.

Mendanha optou por um irresponsável sistema que permite ao comércio, indústria e serviços funcionar livremente três dias por semana e em seguida suspender as atividades por outros dois.  Resultado: diariamente, mais da metade de Aparecida caminha em ritmo normal, desde igrejas, shopping centers, feiras livres, supermercados, escolas e outros espaços coletivos que provocam as tão indesejáveis e nocivas aglomerações que servem de ambiente propício para a explosão do coronavírus. 

Não é difícil entender onde está o erro do modelo adotado por Mendanha. O ciclo da Covid-19 dura, em média, duas semanas. É exatamente por isso que os setores mais ativos da economia e da sociedade precisam ser paralisados ou reduzidos significativamente durante, pelo menos, esse tempo. 

O verdadeiro isolamento intermitente é temporal e não físico. Não foi concebido por setores, mas por prazos, com o mínimo de 14 dias correspondente ao período de florescência da Covid-19. O modelo foi proposto pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, como um mecanismo de interrupção do ciclo do novo coronavírus, controlando o contágio até que o processo de vacinação possa começar a surtir efeitos. É questão de tempo e não de local ou região. Dura 14 dias de fechamento, seguidos por outros 14 de reabertura do comércio, indústria e serviços – o chamado padrão 14×14, instituído oportunamente pelo decreto do governador Ronaldo Caiado, com base científica.

É por isso que a confiança no Painel da Covid-19 da prefeitura de Aparecida é baixa: as informações têm que atender ao objetivo de mostrar que o rumo adotado por Gustavo Mendanha é o correto e não o do governador Ronaldo Caiado. Daí, as divergências com a Secretaria estadual de Saúde e com a prefeitura de Goiânia e a estratégia de atrasar uma data fatídica que vem se aproximando, o dia em que Aparecida vai bater a marca dos 1.000 mortos pela pandemia.

Secom municipal vai contra a transparência em Aparecida

A Secom – Secretaria municipal de Comunicação – da prefeitura de Aparecida não responde a questionamentos e trata jornalistas como hostilidade – como tem sido recorrente em relação aos profissionais do Diário de Aparecida. 

Apesar de ser o maior e mais importante veículo de imprensa do município, o DA também não é incluído na mídia da prefeitura, que prefere anunciar em blogs e em jornais de Goiânia. 

Além disso, o titular da pasta Oséas Laurentino expediu diretriz para todo o secretariado do prefeito Gustavo Mendanha proibindo entrevistas, nesse caso a qualquer órgão, sem a intermediação da Secom.

Assessorias de comunicação do governo do Estado e das prefeituras de Goiânia, Anápolis e Senador Canedo, por exemplo, encaminham respostas ao Diário de Aparecida sempre que solicitadas a esclarecer alguma dúvida quanto a ação dos seus prefeitos. 

Como consequência, não há transparência para os atos de enfrentamento à pandemia em Aparecida. Até as atas do COE – Conselho Municipal que discute as estratégias contra a Covid-19 no município, são ocultadas da imprensa, por ordem da Secom. 

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