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Por que Mendanha esconde Marconi e para onde vai a relação entre os dois

Prefeito e ex-governador vivem relação reservada e discreta, mas o propósito comum de fazer oposição a Caiado vai acabar mostrando que eles estão unidos

Da redação impressa

Uma consulta ao Google, unindo os nomes do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha e do ex-governador Marconi Perillo, resulta em dezenas de links para notícias envolvendo os dois políticos.

Isso sem falar que, misturados, aparecem também links para matérias sobre os problemas judiciais que Marconi enfrenta, como, por exemplo, os processos criminais a que responde por receber propinas da Odebrecht – que, em 2018, o levaram a passar 24 horas no cárcere da Polícia Federal.

Mendanha e Marconi estão realmente juntos? Estão se encontrando em conversando? Por que não há nem uma única foto recente dos dois, pelo menos desde que o prefeito de Aparecida emagreceu 30 quilos e passou a usar o mefistofélico cavanhaque que o identifica hoje em dia?

Vamos, como diria Jack, o Estripador, por partes. Marconi e Mendanha, para começo de conversa, têm um interesse comum: ambos são ressentidos com o governador Ronaldo Caiado, a quem atribuem suas vicissitudes: o ex-governador responsabiliza Caiado pela sua debacle na política, a partir da derrota para o Senado em 2018, e também acha que Caiado está por trás dos seus numerosos processos; já Mendanha guarda mágoas porque Caiado apoiou uma adversária na eleição municipal de 2020, além de também culpar o governador pelas operações policiais que investigam corrupção na prefeitura de Aparecida.

Um observador independente diria essas situações deletérias que Marconi e Mendanha acusam nada têm a ver com Caiado. que Caiado. São desculpas esfarrapadas e talvez até paranoia. Mas política é assim mesmo. Convergindo no ódio a Caiado, os dois fazem o farão o possível para atrapalhar a reeleição do governador. Esse é, portanto, o primeiro ponto a gerar uma identificação e uma afinidade de objetivos entre eles.

Quanto a encontros e conversas entre Marconi e Mendanha, a resposta é, sim, estão acontecendo. Porém, por exigência do prefeito, de modo muito discreto e reservado, já que ele receia desgastes precoces para a sua candidatura ao governo do Estado. Já estiveram juntos em São Paulo e em Goiânia, além das ligações telefônicas que estão se intensificando e dos contatos entre Mendanha e emissários do ex-governador, como o ex-prefeito de Catalão Jardel Sebba e o ex-presidente da ex-Agetop Jayme Rincón.

Marconi gostaria que o relacionamento com Mendanha se tornasse público, em benefício da sua própria imagem e como contrapartida para o apoio que o PSDB está dando ao prefeito. Nas visitas de Mendanha ao interior, por exemplo no Norte goiano, a recepção tem sido feita por tucanos — regiamente controlados e orientados por Marconi e sua estrutura.

Em uma análise precisa, o Jornal Opção perguntou: “Por que Mendanha quer o conforto de ‘namorar’ Perillo, mas não ousa apresentá-lo à sociedade?”. E respondeu: “Há lógica na ação escorregadia do prefeito. A rejeição a Perillo permanece alta. Há registro, em pelo menos uma pesquisa qualitativa, que a junção deles é ‘positiva’ para Perillo e ‘negativa’, até muito negativa, para Mendanha. Seria altamente ‘contaminante’ para o prefeito e relativamente ‘limpante’ para o ex-governador”.

Por fim, a questão da fotografia que não existe, pelo menos desde o afinamento da silhueta de Mendanha e da adoção da barbicha. O prefeito foge como o diabo da cruz de eventos onde possa encontrar Marconi, ainda que casualmente, como aconteceu em um recente evento da Associação Goiana de Municípios em que ele e o ex-governador foram homenageados. Marconi foi, Mendanha mandou um representante.

Essa foto, imagina Mendanha, seria profundamente desgastante. Os dois juntos, no banco de imagens da internet, aparecem muitas vezes, mas com o prefeito com a cara limpa e os quilos a mais, deixando patente que são registros antigos. Se Marconi e o PSDB ostentassem a ficha limpa, ninguém duvida de que, após deixar o MDB, Mendanha correria imediatamente para os braços dos tucanos.

“A partir de um determinado momento, prefeito e tucano vão aparecer juntos”

Em sua análise sobre o relacionamento pessoal político entre o prefeito Gustavo Mendanha e o ex-governador Marconi Perillo, o Jornal Opção diz que “há a impressão de que Mendanha acredita que os eleitores não sabem de sua ligação com Perillo. Convém não subestimar a inteligência deles. Goiás, em peso, sabe que Perillo é a eminência parda das articulações políticas de Mendanha. É melhor assumir a ligação”, aconselha a matéria.

Ocorre que, segundo o jornal, “e Perillo está aceitando ser ‘escondido’ por Mendanha, por uma questão tático-estratégica, não o admitirá para sempre. A partir de determinado momento, o tucano vai aparecer publicamente ao lado do prefeito. Ele forçará a barra e não haverá escapatória.”

Continua a reportagem: “Por se considerar uma espécie de ‘mito’, Mendanha não percebe que, dada sua história, Perillo é maior do que ele. O ex-governador sente-se ‘inferiorizado’ pelo desgaste político — derivado em parte de sua prisão pela Polícia Federal —, mas, na campanha do prefeito em 2022, vai ocupar o centro do palco, mesmo não fazendo parte da chapa majoritária (tende a disputar mandato de deputado federal).”

Como conclusão, o Jornal Opção lembra que, “na campanha, durante todo o tempo, Mendanha será apresentado como ‘o candidato de Marconi Perillo’. Ao mesmo tempo, aqui e ali, terá de explicar inclusive os problemas judiciais de Perillo, o que pode ser constrangedor. Se não fizer a defesa do aliado, ficará mal, porque passará a ideia de que o considera ‘culpado’. Se fizer a defesa, estará atacando, de maneira frontal, tanto a Justiça Federal quanto o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Será complicado.”

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