Aparecida

Rindo, com boné da Aparecidense, Mendanha “responde” a denúncia

O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, “respondeu” à denúncia de ter autorizado, em plena pandemia, um contrato entre a prefeitura e a Associação Atlética Aparecidense, time de futebol profissional da cidade, no valor de R$ 5 milhões 305 mil – em troca de serviços de iniciação esportiva para jovens.
Tão logo o Diário de Aparecida circulou com a denúncia, comprovada por documentos oficiais extraídos do site de transparência do município, Mendanha publicou uma foto, na qual aparece rindo, com um boné gravado com o logotipo da Aparecidense. Na legenda, não fez nenhum comentário. É a “resposta”.
O deboche do prefeito veio em meio à intensa repercussão da matéria do DA, em especial diante do elevado valor com que a Aparecidense foi premiada – durante uma pandemia em que os jogos foram suspensos e houve proibição para qualquer tipo de aglomeração, tanto públicas como privadas. Jornais como o Diário da Manhã e o Diário Central, além de canais de televisão, republicaram informações sobre o escândalo.
O contrato foi assinado em 2020, ano em que Mendanha não autorizou, por exemplo, nenhum programa de socorro para os empresários que têm seus negócios instalados em Aparecida, para amenizar o desemprego, e ainda aumentou alguns impostos e taxas. Também não lançou nenhuma iniciativa para minorar a fome que voltou a afligir as famílias vulneráveis do município, ainda mais com a escassez de trabalho causada pelo impacto da pandemia na economia. Na campanha pelo 2º mandato, ele prometeu implantar um Banco de Alimentos, o que, a propósito, seria facilitado com parte do dinheiro doado para a Aparecidense. Só que não deu nenhum passo nesse sentido.
Em troca dos R$ 5 milhões 305 mil – lembrando: em plena pandemia –, a Aparecidense se comprometeu a entregar serviços genéricos para a prefeitura, como as famosas “escolinhas de futebol”, artifício que levou o prefeito de Catalão, Adib Elias, e o então prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso a serem processados pelo Ministério Público Estadual por ter repassado um valor muito menor do que esse – R$ 700 mil/anuais – para o CRAC e a Associação Canedense, também para financiar uma “escolinha de futebol”, operação que o MPE considerou fraudulenta e judicializou.
Em entrevista ao DA, o radialista esportivo Thiago Menezes, que foi o primeiro a levantar a denúncia nas suas redes sociais, fez uma observação importante: “A Aparecidense é um time de futebol privado e há inclusive uma lei que proíbe o repasse de dinheiro para times de futebol profissionais. Mesmo durante a pandemia, em 2020, a Aparecidense recebeu da prefeitura quase R$ 6 milhões, para aplicar no desenvolvimento do esporte no município e nas categorias bases. Mas a quantidade de pessoas alcançadas por esse trabalho é pífia. Salvo engano, cerca de 200 jovens. E a maioria nem é de Aparecida, sendo que por trás está o intuito de vender os jogadores futuramente, tal qual todo e qualquer time profissional. Beneficiar apenas 200 jovens é uma quantidade muito pequena para uma cidade com mais de 600 mil habitantes”, observou ele, a respeito da destinação do dinheiro da prefeitura depois de entregue à Aparecidense.

Presidente da Aparecidense é proibido de dar entrevista para explicar o contrato

O presidente da Associação Atlética Aparecidense foi “aconselhado” a cancelar a entrevista que havia agendado com o Diário de Aparecida, na qual tinha a intenção de tentar explicar o contrato que destinou R$ 5 milhões 305 mil dos cofres da Prefeitura de Aparecida para a conta do clube. A informação é de pessoas próximas ao dirigente esportivo.
Elvis Mendes, tão logo a reportagem foi publicada, na última quinta, 19, entrou em contato com o DA para solicitar uma entrevista, dizendo que deseja prestar informações sobre o contrato. Ele pediu o horário das 9h da manhã de sexta, 20, para comparecer à sede do jornal, no Parque Industrial Vice-Presidente José de Alencar, no que foi prontamente atendido, com o agendamento da entrevista.
Mas, antes do horário marcado, Elvis Mendes telefonou para avisar que estava cancelando a visita, sem dar maiores explicações. Na verdade, ele foi pressionado, ou pelo prefeito Gustavo Mendanha ou por seus assessores, que lhe apresentaram uma visão diferente: ao oferecer explicações, ele estaria corroborando o teor da denúncia e, portanto, seria um erro dar a entrevista – que acabaria chamando mais atenção para o contrato e poderia motivar interpretações jurídicas divergentes, até mesmo provocando uma intervenção do Ministério Público Estadual.
Duríssimo com as gestões de Maguito Vilela, quando propôs mais de uma dezena de ações questionando atos da Prefeitura de Aparecida, o Ministério Público Estadual, nos quatro anos e meio de Mendanha na prefeitura, nunca agiu contra a prefeitura ou o prefeito. Parte dos promotores que atuavam nos tempos de Maguito foi substituída – e aí não mais houve procedimentos para colocar em dúvida quaisquer fatos da nova gestão.
Em municípios como Catalão e Senador Canedo, correm ações e processos impetrados pelo MPE a propósito de repasses das suas prefeituras para times de futebol profissionais, sob os mesmos pretextos alegados no contrato assinado entre a gestão Mendanha e a Aparecidense, ou seja, o suposto apoio à iniciação esportiva de jovens. Respondem a ações de improbidade administrativa os prefeitos Adib Elias, de Catalão, e Vanderlan Cardoso, que administrou Senador Canedo entre 2005 e 2010.

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