Aparecida

Aparecida como “cidade inteligente” é só marketing de Mendanha. Entenda

Da Redação

Os leitores já se cansaram de ver entrevistas, vídeos, postagens nas redes sociais e mais uma infinidade de material de divulgação em que o prefeito Gustavo Mendanha (MDB) apresenta Aparecida como “cidade inteligente”.

A verdade é que se trata de puro marketing e nada mais. Aparecida não é e dificilmente será um dia uma “cidade inteligente” ou qualquer coisa que o pareça. Mesmo muito amplo, o conceito, em princípio, só pode ser aplicado a núcleos urbanos projetados a partir do zero, em que, por exemplo, para se deslocar de um ponto a outro qualquer não se gastem mais do que 5 minutos. Ou então a cidades que, antigas, passaram por uma modernização radical, com investimentos bilionários.

Imaginem só uma distância temporal de 5 minutos entre um ponto e outro em Aparecida, onde as carências sociais e de infraestruturas são enormes, como, por exemplo, as dezenas de bairros sem asfalto e as milhares de crianças sem vagas para a Educação Infantil nos CMEIs – e, sim, esses problemas é que deveriam merecer a atenção da prefeitura para que não se perpetuem sem solução.

O que Gustavo Mendanha e seus seguidores chamam de “cidade inteligente” é uma sala na Cidade Administrativa, repleta de telas, de onde são controladas câmaras espalhadas por pontos estratégicos da cidade. Trata-se do videomonitoramento, prática rotineira em dezenas de outros municípios brasileiros, mas ainda novidade em Goiás, em que só Aparecida investiu.

Isso, por si só, não faz uma cidade ser considerada “inteligente”. É preciso muito mais. A prevalência dos aspectos técnicos sobre a política nas decisões do prefeito, a propósito, é um item fundamental. Em Aparecida, a folha de pagamento é comprometida em grande parte com a nomeação de aliados políticos para garantir apoio político para o chefe do Executivo. E alcançando um ponto extremo: praticamente todos os partidos e todos os 25 vereadores, em troca de cargos, são submissos a Gustavo Mendanha. Não há oposição.

A propaganda que tenta vender Aparecida como uma “cidade inteligente” prejudica o município, ao esconder os seus verdadeiros desafios e as reais necessidades da sua população – como as dezenas de bairros sem asfalto, as quase 100 crateras de erosão que ameaçam famílias carentes, a fome entre as pessoas vulneráveis e a crônica falta de vagas para as crianças aparecidenses nos CMEIs.

Em 9 pontos, tudo o que poderia ser, mas não é

Uma “cidade inteligente” é um ecossistema urbano inovador, caracterizado pelo uso generalizado de recursos tecnológicos na gestão de seus recursos e de sua infraestrutura, facilitando a vida dos cidadãos. Assim, tecnologia e inovação são mescladas de forma coordenada e integrada à infraestrutura urbana tradicional, como ocorre em várias cidades do mundo. Aparecida, apesar da propaganda da prefeitura, está longe dessa realidade, que já existe em Barcelona, na Espanha; em Copenhague, na Dinamarca; e em Songdo, na Coréia do Sul. Tudo o que esses grandes centros urbanos exibem como demonstração de que são “cidades inteligentes” falta no município comandado por Gustavo Mendanha: capital humano, coesão social, economia criativa, governança ética e eficiente, meio ambiente preservado, mobilidade e transporte, planejamento urbano, conexões internacionais e tecnologia.

Barcelona tem 4 mil anos, mas foi modernizada e transformada em cidade inteligente graças a um investimento bilionário

Capital humano

Atrair e reter talentos em diferentes áreas deve ser um dos objetivos de uma cidade inteligente. Há um consenso internacional de que o acesso à cultura e o nível de educação são parâmetros importantes para medir o capital humano. Por isso, indicadores como o percentual da população com educação secundária ou superior, número de universidades, escolas, museus e galerias de arte, além dos gastos com lazer da população, são levados em conta.

Coesão social

O ranking considera como coesão social o grau de coexistência entre grupos de pessoas com diferentes rendas, culturas, idades e profissões. Faz-se uma avaliação de fatores como imigração, desenvolvimento das comunidades, cuidados com o idoso, eficiência do sistema de saúde, inclusão pública e segurança. Indicadores como criminalidade, saúde, taxas de desemprego e distribuição de renda, entre outros, são levados em conta.

Economia

Aqui avalia-se tudo que possa promover o desenvolvimento econômico do território, como planos locais para a indústria, inovação e iniciativas empreendedoras. Os indicadores para o cálculo do ranking incluem o PIB da cidade, a produtividade e o tempo necessário para iniciar um negócio, entre outros.

Governança

Nesse critério, o ranking leva em conta a eficiência, qualidade e estabilidade das intervenções estatais. As reservas econômicas das cidades, certificações que comprovem a qualidade de seus serviços e a percepção de corrupção estão entre os indicadores no cálculo do índice.

Meio ambiente

Crescer de forma sustentável é a principal preocupação de quem se destaca nessa categoria. A ONU definiu essa questão quando afirmou que ela se refere ao “desenvolvimento que supre as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações suprirem suas necessidades”. Índices de poluição e de emissão de gás carbônico e metano, além do acesso à água potável da população, estão entre os indicadores levados em conta.

Mobilidade e transporte

A IESE Business School elenca dois desafios principais nesse quesito: facilitar a movimentação nas cidades e ampliar o acesso aos serviços públicos. A cobertura dos sistemas de metrô, sistemas de compartilhamento de bicicletas, tempo médio de deslocamento para o trabalho e índices de tráfego são os principais indicadores.

Planejamento urbano

Sustentabilidade é a palavra-chave para definir o critério de planejamento urbano. Indicadores como o percentual da população com acesso ao saneamento básico, número de pessoas por moradia e número de edifícios construídos na cidade são considerados aqui.

Conexões internacionais

O impacto global de uma cidade é medido por esse quesito. Sua marca e reconhecimento internacional por meio de planos estratégicos de turismo, além da capacidade de atrair investimentos estrangeiros, são aspectos decisivos. Alguns dos indicadores usados no levantamento são o número de aeroportos, hotéis e conferências e congressos sediados na cidade.

Tecnologia

No relatório do Cities Motion Index, o acesso à tecnologia é tratado como um aspecto decisivo para melhorar a qualidade de vida da população. Os principais indicadores são o percentual de lares com acesso à internet, à banda larga e à telefonia móvel, mas não há referência a câmeras para vigiar ruas e logradouros.

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