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“Sonho de Meirelles é representar Goiás no Senado”, diz Gilberto Kassab

Da Redação

Depois de gastar R$ 54 milhões do próprio bolso na campanha presidencial de 2018, quando foi o maior doador pessoa física da história e recebeu pífios 1,2% dos votos, o ex-ministro da Fazenda (governo Michel Temer) e atual secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, planeja, agora, aos 75 anos, um voo político mais “modesto” para as eleições de 2022. 

Embora seja cauteloso ao tratar do assunto, Meirelles disse nesta semana ao jornal O Estado de S. Paulo que deixou o MDB e voltou para o PSD porque foi convidado pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab, e por dirigentes estaduais do partido para disputar uma vaga no Senado por Goiás, sua terra natal. O presidente do PSD em Goiás Vilmar Rocha não confirma essa versão. Ele sequer compareceu à filiação de Meirelles, que ocorreu em São Paulo.

Pelo plano traçado no PSD, Meirelles faria uma dobradinha com o governador Ronaldo Caiado (DEM), figurando na chapa da reeleição como postulante ao Senado. Para isso, seria necessário levar o PSD para a coligação caiadista, movimento que já tem o apoio ostensivo de outros membros do partido, como o senador Vanderlan Cardoso e o deputado federal Francisco Jr. 

Vilmar Rocha, no entanto, não deu nenhum sinal, ainda, de que é a favor dessa aliança que, na prática, significa que o PSD apoiaria recondução de Caiado a mais um mandato. “O PSD não tem definição em Goiás para 2022”, diz ele, que é próximo do ex-governador Marconi Perillo, do PSDB.

“O Meirelles sempre teve muita afinidade com o PSD e foi um dos fundadores do partido. O sonho dele sempre foi representar Goiás na vida pública”, explicou em entrevista, em São Paulo, Gilberto Kassab. A disputa pelo Senado deverá ser a terceira investida eleitoral de Meirelles. A primeira foi em 2002, quando foi eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás, aliás como o mais votado, e a segunda foi a aventura presidencial. 

Durante o período em que esteve à frente do Banco Central (governo Lula) e do Ministério da Fazenda, na gestão Temer, o Meirelles ganhou fama de “articulador hábil” e “paciente” com o Congresso Nacional. A movimentação do ex-ministro, porém, já incomoda potenciais adversários na política goiana. “Ele não tem raízes em Goiás. Foi ligado à esquerda, Lula e ao PT e agora está com (João) Dória. O eleitor goiano não vai entender isso”, disse o deputado Delegado Waldir, presidente do PSL goiano e deputado mais votado do Estado em 2018. 

Em 2018, um gasto de R$ 54 milhões e resultado de apenas 1,2% dos votos

O secretário da Fazenda do governo de São Paulo e ex-ministro Henrique Meirelles, questionado sobre quem ganhou o seu voto no 2º turno em 2018, disputado entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad, Meirelles desconversou: “O voto é secreto”. 

Na rotina do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Meirelles é um dos poucos que têm gabinete próprio. Despacha a poucos metros do governador João Dória. No organograma do governo paulista, em 2020, Meirelles passou a dividir o protagonismo da área econômica com Mauro Ricardo, que assumiu a então recém-criada Secretaria de Orçamento, Gestão e Projetos. A dupla enfrentou a batalha política mais dura do governo Doria, que foi a aprovação do pacote fiscal para conter um rombo de R$ 10,4 bilhões no orçamento de 2021. A proposta aumentou impostos e autorizou a demissão de 5,6 mil servidores. 

Passada a turbulência desse período, Doria dividiu com Meirelles os holofotes no anúncio daquele que espera também ser um ativo eleitoral depois da vacina do Butantan: o anúncio de que PIB de São Paulo manteve crescimento em 2020, considerado o mais difícil da história recente em razão da pandemia. 

Meirelles acha que o presidente Jair Bolsonaro não conseguiu cumprir a agenda prometida na campanha. “Existem linhas diferentes dentro do governo”, analisa ele, acrescentando que “algumas medidas foram na direção certa, mas, olhando como um todo, temos uma situação difícil. A pior coisa que poderia acontecer com o Brasil seria sair de uma crise de saúde e entrar numa crise fiscal. Seria o pior dos mundos. Felizmente, temos o teto de gastos na Constituição. Isso hoje é a salvação da lavoura. Permite a manutenção da responsabilidade fiscal”, adianta. 

Os R$ 54 milhões que ele gastou em 2018 na sua fracassada campanha à presidente renderam, apuradas as urnas, apenas 1,2% dos votos. Os recursos saíram todos do seu patrimônio pessoal. Mesmo assim, Meirelles acha que valeu a pena: “Sempre fui realista e sabia que, num quadro muito polarizado, grande parte da população votaria dentro da polarização. Um para evitar o outro e outro para evitar o um. Estamos vivendo essa situação”. 

Mas a candidatura a presidente, concluiu, deixou um legado: “Fiz a divulgação de uma agenda econômica para o país. Essa agenda se tornou do governo. Se está ou não implementada, é outra história”. É essa história que ele pretende continuar como candidato a senador por Goiás.

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