Aparecida

Comunidade negra cobra mais ações da gestão municipal em Aparecida

Ainda sem acesso ao plano de combate ao racismo em Aparecida de Goiânia, a comunidade negra do município se sente desamparada pela atual gestão da prefeitura. Representante do movimento destaca que os negros desejam visibilidade e elaboração de políticas públicas afirmativas de combate ao racismo, além de respeito e espaço de voz na sociedade. Grupo denuncia que o órgão municipal não promove espaços de debate e conscientização coletiva.

No Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década, de acordo com o Atlas da Violência 2020, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Coordenadora Nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal, disse ao Diário de Aparecida que a Prefeitura de Aparecida de Goiânia não apresentou à comunidade negra da cidade um plano de combate ao racismo e promoção racial. “Conforme promessa de campanha do prefeito Gustavo Mendanha, a equipe ainda não apresentou nenhum plano de combate ao racismo e promoção racial. Nós estamos esperando essa reunião”, diz.

Ieda afirma que o prefeito de Aparecida de Goiânia tem o dever de organizar a cidade para combater o racismo. “Gustavo deve firmar o compromisso de propor políticas de combate ao racismo e ao machismo. Ele tem que organizar a cidade de forma que resgate a luta por igualdade racial. Eles terão que fazer isso com muita propriedade. A luta pelo racismo é responsabilidade da cidade. E nas mãos de homens negros, a tarefa é cuidar dela e cuidar dessa pauta que não é exclusiva da comunidade negra. A luta antirracista é de toda a sociedade”, salienta.

Iêda sugere que a sociedade integre a luta de combate ao racismo. “Temos que trabalhar para o racismo desaparecer, como machismo. É preciso que eles tenham o cuidado de, ao propor para a cidade, políticas que escutem negros e negras e mulheres brancas. Nós não podemos mais conviver com uma cidade racista e nem machista. O movimento negro estará a todo momento cobrando a pauta racial, mas também para a cidade. Queremos viver em uma cidade que tenha condições de ter educação, saúde e lazer para todo mundo. A parcela negra é significativa. A tarefa dos gestores extrapola a identidade partidária e de igreja.”

Para ela, é fundamental conhecer o racismo para desenvolver formas de combatê-lo. “Temos tido várias respostas da nossa comunidade. O movimento negro tem percebido essa organização, as pessoas não têm mais medo nem vergonha de denunciar, estão fazendo seu papel. A denúncia movimenta a sociedade e isso serve para que as pessoas possam ver o que está acontecendo e que elas possam se posicionar contrárias a esse tipo de situação”, destaca.

Iêda reforça ainda que é preciso divulgar mais as leis existentes para proteger a população. “Precisamos continuar dizendo que a escola faz a diferença e que nós precisamos, de fato, nos organizarmos mais para fazer o enfrentamento contra todo tipo de preconceito e racismo em nossa sociedade.”

A coordenadora e sindicalista salienta que as punições devem ser severas para os crimes. “Sempre tem de haver punições severas nesses casos contra a honra, contra a coletividade do povo negro no País, das violações que sofremos o tempo todo por meio de propagandas indevidas e de observações feitas por pessoas racistas”, disse.

Iêda Leal também defendeu a necessidade de se combater o preconceito às religiões de matrizes africanas. “O estado é laico, mas tem que haver um ponto final com a violência. Precisamos defender esses espaços sagrados para garantia dessas pessoas [que fazem parte das religiões de matrizes africanas]”, afirmou.

No último domingo, 25, foi comemorado o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. Sobre isso, a representante na Comissão do Movimento Negro Unificado, Iêda Leal, cobrou cuidados especiais com as mulheres negras. “As mulheres negras precisam de um recorte para os cuidados reais, pois são mulheres que denunciam e não são amparadas e não têm garantias de suas vidas.”

Ela defende que a reorganização do movimento negro passa pela organização e orientação das mulheres negras. “Não estamos nos esquecendo dos homens negros, não estamos esquecendo de cuidar dos mais velhos. Pelo contrário, inauguramos uma forma muito coletiva de abraçar, organizar e reorganizar o movimento negro para a luta. As mulheres deram o exemplo ao seguirem o caminho do bem viver. O bem viver, para nós, é isso: a coletividade, o respeito e a convicção quando fazemos as intervenções de forma mais coletiva. Entender que somos parte de um legado de memórias de luta e resistência”, salienta.

Sobre a participação da comunidade negra na política, Ieda Leal pede a garantia do financiamento dessas candidaturas e o combate da violência política que muitas vezes as atinge. “Precisamos compreender o processo de onde o dinheiro sai, para onde vai, se chega aos negros e às mulheres do partido”, defendeu a coordenadora do Movimento Negro Unificado, Ieda Leal.

O DA entrou em contato com a Prefeitura de Aparecida para saber sobre as ações de políticas públicas de combate ao racismo e promoção racial, mas outra vez, até o fechamento desta edição, a gestão municipal preferiu se calar e não dar explicações acerca das cobranças dos aparecidenses.

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