Aparecida

Viagens de Mendanha deixam Aparecida entregue à administração de secretários

As viagens do prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, a outros municípios, com a finalidade de articular as eleições do ano que vem, em horário de expediente ou não, estão prejudicando a sua gestão – inteiramente entregue ao secretariado, inclusive quanto ao aspecto mais importante no momento, que é o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

Nesse fim de semana, Mendanha foi a Uruaçu na tarde de sexta-feira, 25, quando deveria estar ou no seu gabinete na Cidade Administrativa ou nas ruas de Aparecida trabalhando pela população. Na quinta-feira, 24, já tinha ido para Brasília, onde gastou o tempo percorrendo uma sub-região administrativa do Distrito Federal conhecida como Vicente Pires. E no sábado, 26, passou o dia em Itapaci, completando três dias consecutivos inteiramente longe da cidade que governa.

Em nenhum desses compromissos, Mendanha tratou de assuntos de interesse de Aparecida. A agenda em Itapaci teve o objetivo apenas de aproximação com o prefeito local, Mário Macaco (sim, o nome é esse mesmo), que não por acaso é do PSDB – partido liderado em Goiás pelo ex-governador Marconi Perillo, do qual Mendanha se aproximou ultimamente com o objetivo de montar uma frente contra a reeleição do governador Ronaldo Caiado.

Outra “coincidência” é o fato de que o prefeito de Uruaçu, Valmir Pedro, também é do PSDB. A desculpa de Mendanha para as viagens, ou seja, a de que estaria conversando sobre o lançamento de uma candidatura própria do MDB em 2022, portanto, não funciona para justificar essas duas visitas.

Segundo fontes tucanas, Mendanha estaria sondando o terreno para uma possível transferência para o PSDB, com a garantia de que seria indicado como candidato a governador no ano que vem – um projeto político e pessoal suicida, já que o prefeito aparecidense não é conhecido fora do seu município e não é considerado uma liderança estadual.

Não teria escopo, assim, para um voo mais alto, ainda mais se opondo à reeleição de Caiado, que deve ser apoiado até pelo partido atual de Mendanha, o MDB, em troca da escalação do presidente estadual da legenda, Daniel Vilela, na vaga de vice-governador.

Mas o que importa é que, na ausência do chefe do Executivo, os assuntos da Prefeitura de Aparecida passaram a ser cuidados pela equipe de secretários, a maioria indicada não com base em critérios técnicos e, sim, a partir de indicações políticas. Mendanha eliminou a oposição e construiu uma espécie de “unanimidade” a seu respeito, distribuindo cargos para presidentes de partidos, vereadores, suplentes, ex-vereadores e toda e qualquer liderança que tenha um mínimo de consistência no município. É essa gente que está administrando Aparecida.

Secom nega-se a informar sobre carro, combustível e diárias para o prefeito

Acionada pelo Diário de Aparecida para prestar esclarecimento sobre as viagens do prefeito Gustavo Mendanha a municípios para tratar de assuntos políticos, como ele mesmo admite (diz defender a candidatura própria do MDB em 2022), a Secretaria de Comunicação (Secom) de Aparecida negou-se a dar qualquer esclarecimento.

Caso Mendanha se desloque em veículo do município, abastecido com combustível custeado por recursos públicos e dirigido por funcionário da prefeitura, além de diárias para si ou acompanhantes ou qualquer ajuda de custo para isso, estaria incorrendo em crime de improbidade administrativa.

Em algumas viagens, ele leva também a esposa, Mayara, que ocupa a Secretaria de Assistência Social (aliás, a única mulher presente no secretariado de 27 pastas, das quais 26 são ocupadas por homens). O Diário de Aparecida perguntou à Secom se Mayara também estaria recebendo diárias ou qualquer apoio financeiro para viajar com o marido e igualmente não obteve resposta.

Mendanha posta registro das viagens nas suas redes sociais, mas evita mostrar cenas em que aparece o veículo em que é transportado. Frequentemente ressalta que está deixando Aparecida nos feriados e fins de semana e não no horário de expediente, o que não é verdade.

Sexta-feira passada, dia 25, no período da tarde, ou seja, quando deveria estar trabalhando na prefeitura, ele foi para Uruaçu, mas, espertamente, não publicou fotos nem qualquer detalhe nas suas mídias sociais. No entanto, o prefeito Valmir Pedro, desavisadamente, lotou o seu perfil no Instagram de imagens de Mendanha na cidade, escrevendo, ainda, que “debatemos a formação de um grande projeto para o futuro de Goiás”.

Em outras palavras: política, mesmo sendo do PSDB e Mendanha do MDB. Nesse caso, se o prefeito de Aparecida esteve em Uruaçu gastando recursos do erário, pode ter cometido uma ilegalidade, ainda mais que tudo se passou em horário de expediente. Confirmando-se que as despesas foram cobertas pelos contribuintes aparecidenses, o caso é grave.

O Diário de Aparecida continua aguardando as informações que a Secom tem o dever de prestar à sociedade sobre eventuais despesas geradas pelas viagens do prefeito Gustavo Mendanha.

 

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo