Aparecida

Tempo de Mendanha está cada vez mais curto: são 70 dias até a data da renúncia

Prefeito enfrenta o dilema de deixar ou não o mandato para se lançar à aventura de disputar o governo do Estado: gestão pode terminar sem uma identidade forte em termos de realizações

Da Redação

O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha (sem partido) está correndo contra o relógio: aproxima-se rapidamente a data na qual será obrigado a renunciar ao mandato, caso tenha mesmo coragem e disposição para se lançar à aventura de disputar as próximas eleições para o governo do Estado.

O dia marcado pela legislação eleitoral para a desincompatibilização dos interessados em se inscrever para o pleito de outubro é 2 de abril, uma quarta-feira. Até lá, Mendanha tem apenas 70 dias para se decidir. Só que, por enquanto, o prefeito está no escuro.

Ele não tem sequer um partido político, requisito mínimo exigido pelo Tribunal Regional Eleitoral para quem quiser registrar uma candidatura. Carece também de apoios de peso para fundamentar a sua postulação. Só conseguiu, até o momento, dois deputados federais – Magda Mofatto (PL) e Prof. Alcides (PP), além dos estaduais Paulo Cézar Martins (MDB), Delegado Humberto Teófilo (PSL) e Cláudio Meirelles (PTC. Conta com o apoio do Major Edelcírio (PDT, de São Luiz dos Montes Belos), único dentre os 246 prefeitos goianos a avalizar o aparecidense.

Em um ano de pré-campanha, iniciada com a sua mudança de personalidade no momento exato em que foi anunciada a morte do ex-prefeito de Aparecida e ex-governador Maguito Vilela, o saldo minguado da movimentação de Mendanha é minguado. E isso apesar de visitar mais de 100 municípios pelo Estado afora, o que o levou ser alvo de pesadas críticas por viajar muitas vezes em horário de expediente, abandonando a cidade que deveria administrar ao léu.

Mendanha, se renunciar, abrirá mão de dois anos e nove meses no comando do segundo maior centro urbano de Goiás. Não é pouca coisa. Como se sabe, a prefeitura de Aparecida é um portento, ao dispor do terceiro orçamento do Estado em volume de recursos. Naturalmente, os problemas e desafios que apresenta também correspondem a essa grandeza. No momento, as chuvas e a nova arrancada da pandemia, através da variante Ômicron, infernizam a vida dos seus mais de 600 moradores. O prefeito segue ausente.

Detalhe da maior importância: Mendanha, espertamente, sempre deixou uma porta aberta para desistir da candidatura. Categoricamente, ele nunca disse que vai mesmo disputar a corrida pela governadoria. Ao contrário: nas suas entrevistas, faz questão recorrer a chavões como o de que se sente honrado pela lembrança do seu nome, porém não está definitivamente resolvido quanto a se candidatar.

Além das dificuldades para arrumar um partido e aglutinar apoio político de expressão, o prefeito tem outras pedras no caminho até o dia 2 de abril. Muitas das promessas de campanha – a maioria – que fez tanto para o 1º quanto para o 2º mandato ainda estão no papel, como a mais emblemática delas: o asfaltamento de todos os bairros, hoje meta distante, já que mais de 30% deles permanecem na lama e na poeira. Esse legado negativo pode comprometer o futuro do prefeito.

Outro óbice é a falta de confiança de Mendanha no seu vice, Vilmar Mariano (MDB), o Vilmarzim. Os dois já tiveram desentendimentos sérios, sem falar nas rusgas de Vilmarzim com secretários importantes como o excêntrico Tatá Teixeira, da Articulação Política, e o “chefão” André Rosa, da Fazenda, que ele, o vice, já falou em demitir imediatamente caso venha a tomar posse.

Vilmarzim é tido como um político de personalidade, que não aceita cabresto: como prefeito, não seria, jamais, preposto de quem quer que seja. Se Mendanha largar o cargo, estará à mercê de uma força que, absolutamente, não controlará de jeito nenhum.

AS PROMESSAS ESQUECIDAS DAS CAMPANHAS DE 2016 E DE 2020

1

Construir o Hospital do Câncer

Gustavo Mendanha prometeu implantar em Aparecida uma unidade de tratamento especializado em oncologia, mas, até hoje, não deu um único passo para chegar a esse objetivo. Tem mais: pelo alto custo da obra e pela crise de gestão da prefeitura, que viu cair os repasses federais para a Saúde e carrega hoje o fardo de uma folha de pagamento inflada para atender a acordos políticos, não tem mais tempo sequer para lançar essa obra.

2

Asfaltar todos os bairros

É a mesma promessa que foi feita nas campanhas para o 1º e 2º mandatos. Para dar a impressão de alguma realização nessa área, Mendanha fez rodízio entre frentes de asfaltamento, a maioria em setores onde a pavimentação já havia sido iniciada e em seguida abandonada. Hoje, mais ou menos 30% dos bairros seguem na lama e na poeira. A 600 metros da casa do prefeito, que mora em um condomínio fechado em Aparecida, existem ruas aguardando sem perspectivas o benefício.

3

Criar o Banco de Alimentos

Infelizmente, há famílias passando fome em Aparecida. O CadÚnico, banco de dados do governo federal sobre pessoas em situação de vulnerabilidade, registra mais de 40 mil aparecidenses carentes. Mendanha prometeu implantar uma estrutura para socorrer essas famílias em caráter permanente, mas, até hoje, limitou-se a distribuir esporadicamente cestas básicas. Resultado: a fome voltou a Aparecida.

4

Implantar a Secretaria de Segurança

Talvez a promessa que mais foi repisada na campanha para o 2º mandato. A pasta foi criada, mas não ganhou estrutura nem meios para ajudar a combater o crime em Aparecida, que continua por conta apenas das forças policiais do Estado. A secretaria, na prática, acabou servindo como cabide de empregos para a distribuição de salários a apaniguados dos partidos políticos e dos vereadores.

5

Abrir os Eixos Leste-Oeste

Na prática, significaria a construção de novas avenidas de pistas duplas para melhorar a ligação entre os setores mais movimentados da cidade e fazer a conexão com rodovias estaduais e federais e com Goiânia. Prefeitos como Maguito Vilela e Admir Menezes foram produtivos nessa área. Mendanha, em ritmo lento, diz que iniciou a implantação de cinco ou seis eixos, sem prazo para conclusão. E apenas dois estão em andamento.

6

Mais oferta de empregos

O desemprego é alto em Aparecida, cuja economia foi abalada pela crise do novo coronavírus. Mendanha prometeu um programa para reintegrar pessoas que foram demitidas ao mercado de trabalho, por enquanto inexistente. Com o impacto da pandemia, a massa trabalhadora sem colocação formal é cada vez maior, sendo estimada hoje entre 15 e 16% da mão de obra ativa, conforme estudos nacionais do IBGE. O programa, apesar de simples, dependendo apenas de coordenação da prefeitura, não saiu da estaca zero.

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