Aparecida

Traição: movimento de Mendanha por candidato próprio ameaça Daniel Vilela

O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, traiu o presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, ao defender, inclusive com viagens aos municípios, a tese de candidatura própria do partido nas eleições do ano que vem. A posição do filho e herdeiro político de Maguito Vilela é não só diferente, como também totalmente antagônica: depois de seis derrotas consecutivas para o governo do Estado, chegou a hora de uma solução capaz de revigorar o MDB, através de uma composição com o DEM e do apoio à reeleição de Ronaldo Caiado, em troca de um lugar na chapa encabeçada pelo democrata.

Mais: Daniel Vilela defende a tese de que assuntos vinculados à posição da legenda em 2022 devem ficar para 2022, no que tem convergência com Caiado – o governador defende que o momento ainda é de foco no enfrentamento à Covid-19 em Goiás e que a política deve ser tratada somente a partir de janeiro vindouro.

Gustavo Mendanha se colocou contra tudo isso. Além de antecipar o debate sobre as eleições, passou a dar entrevistas e a postar intensamente nas redes sociais a favor do lançamento de um candidato emedebista a governador – a ponto de estimular o surgimento de um nome de oposição à recondução de Daniel Vilela ao comando do diretório estadual, que será renovado em convenção convocada para a próxima sexta, 18 de junho.

Dentro da linha de atuação de Mendanha, o deputado estadual Paulo Cezar Martins formou uma chapa sugestivamente intitulada de “Candidatura Própria ao Governo” e encaminhou uma carta aos membros do MDB, na qual repete quase que literalmente os argumentos que vêm sendo usados pelo prefeito de Aparecida para confrontar Daniel Vilela: “Coloco o meu nome à disposição de toda a militância do MDB com o único propósito de buscarmos o fortalecimento do nosso partido. E não há outro caminho para esse fortalecimento a não ser o lançamento de uma candidatura própria ao governo estadual. O MDB merece ter candidato próprio. Devemos isso a todos que acreditam em nós”, afirma o deputado.

E mais: Paulo Cezar tenta constranger Iris Rezende, lembrando que o velho cacique emedebista, hoje ostensivamente a favor da aliança com Caiado, sempre postulou uma “presença afirmativa” e a apresentação de candidato próprio da legenda nas eleições para o governo do Estado. É o mesmo que Mendanha diz, sem tirar nem pôr. Para piorar as coisas, o candidato a governador que Paulo Cezar sugere é… Mendanha.

O prefeito aparecidense continua repetindo que é “irmão” de Daniel Vilela e que tem dever de lealdade em relação a ele. Além de Maguito, que foi responsável pela primeira eleição de Mendanha em 2016, há também o fato de que foi Daniel quem bateu o martelo pela candidatura, já que, na época, o pai dele tinha a intenção de lançar o seu secretário de Captação de Recursos, Euler Morais, para a sua sucessão. O pai de Gustavo, Léo Mendanha, ameaçou com um racha do MDB em Aparecida, criando uma crise (a divisão poderia levar à derrota nas urnas) que foi resolvida com o recuo de Maguito e a decisão de engolir Mendanha em nome da unidade do partido.

Chapa de Paulo Cezar Martins surgiu das viagens do prefeito

O MDB goiano estava em paz, com Daniel Vilela se preparando para ser confirmado na presidência do diretório estadual, até o momento em que o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, resolveu sair em uma sucessão de visitas aos municípios para articular o lançamento de um candidato próprio a governador nas eleições do ano que vem.

Mendanha, que agiu motivado por interesses mesquinhos de vingança contra o governador Ronaldo Caiado, de quem guarda ressentimento pelo apoio que deu a uma candidata adversária na disputa pela prefeitura em 2020 (Caiado ajudou Márcia Caldas, do Avante), passou a sonhar não só com o seu próprio nome na corrida pelo Palácio das Esmeraldas, mas também com a formação de uma frente de oposição para enfrentar a reeleição de Caiado.

O prefeito, que alega ser “irmão” e “leal” a Daniel Vilela, tomou um caminho diferente. Daniel admite uma composição com o atual governador, recebendo em troca um lugar na chapa da reeleição e a chance de revigorar o MDB, depois de mais de 20 anos afastado do poder, período em que o partido perdeu seis eleições sucessivas – três com Iris Rezende, duas com Maguito Vilela e uma com o próprio Daniel.

A movimentação de Mendanha acabou gerando uma operação que contesta a continuidade do “irmão” Daniel na presidência estadual do diretório emedebista. Foi formada uma chapa liderada pelo deputado estadual Paulo Cezar Martins, estrategicamente batizada como “Candidata Própria ao Governo”. O nome é o resumo perfeito de tudo o que Mendanha vem dizendo ultimamente em suas andanças atrás das lideranças emedebistas do interior.

Vencer Daniel Vilela na convenção do próximo dia 18, sexta, é quase impossível. Mas Paulo Cezar Martins, aproveitando-se da onda criada por Gustavo Mendanha e usando os argumentos do prefeito de Aparecida, já conseguiu mostrar que não há unanimidade no MDB e que o partido pode mergulhar em uma crise interna, prejudicial aos seus objetivos de recuperar o protagonismo perdido na política estadual.

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